A Rio Indústria, Associação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, destacou a importância de resgatar o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) como hub aéreo. Segundo a entidade, o Galeão tem perdido relevância, o que afeta a economia local, o turismo e a arrecadação de impostos. A associação aponta o crescimento das operações no Aeroporto Santos Dumont como um dos principais fatores para a diminuição de voos no Galeão.
Com a transferência de voos para outros estados, como São Paulo e Brasília, o Rio de Janeiro perde conectividade internacional, impactando negativamente setores que dependem do transporte aéreo. Além disso, a diminuição das operações no Galeão prejudica o transporte de cargas, essencial para a indústria e o comércio local.
Entrevista com o presidente da Rio Indústria sobre as operações no Galeão
Em entrevista exclusiva ao Conexão Fluminense, o presidente da Rio Indústria, Sérgio Duarte, defendeu que é necessário limitar o número de voos no Santos Dumont e reforçar as operações no Galeão para atrair voos internacionais e estimular o desenvolvimento econômico do Estado.
Conexão Fluminense – Qual é a principal razão para o enfraquecimento do Galeão como hub aéreo?
Sérgio Duarte – “O problema do Galeão começa com o fortalecimento do Santos Dumont. Quando esse aeroporto passou a concentrar o maior número de voos antes da pandemia, tornou-se uma opção preferencial para voos curtos, devido à sua proximidade do centro e à facilidade de embarque e desembarque. No entanto, isso traz um grande desafio: o Santos Dumont não comporta aviões grandes, impossibilitando a operação de voos internacionais que poderiam ser utilizados para conexões em outros aeroportos. Ao fortalecer o Santos Dumont, os voos internacionais para o Rio de Janeiro diminuem, deslocando-se para outros estados, como São Paulo e Brasília, enquanto o Santos Dumont passa a receber essas conexões.
Portanto, é essencial limitar os voos no Santos Dumont. O crescimento desse aeroporto se torna inviável, a ponto de a infraestrutura não conseguir suportar a demanda. Precisamos reforçar a operação do Galeão, que pode receber voos internacionais e proporcionar conexões para outros estados. Com uma boa oferta de voos domésticos, atraímos voos internacionais, o que gera fluxo de passageiros, fortalece a economia e a indústria.”
CF – Quais setores da economia do Rio de Janeiro foram mais impactados pela redução das operações no Galeão?
SD – “A economia como um todo foi afetada, mas os setores que lidam com produtos de alto valor agregado, como o farmacêutico e o eletroeletrônico, sentiram o impacto de forma mais intensa. Esses produtos, que não são commodities, podem ser transportados por via aérea devido ao seu valor elevado. Já commodities como soja e minério de ferro são geralmente exportadas por navio. A presença de um aeroporto que possibilite conexões é fundamental para a economia do Rio de Janeiro, que possui centros de pesquisa e várias universidades que agregam valor e tecnologia aos produtos.”
CF – Quais medidas imediatas são necessárias para que o Galeão retome seu status de hub aéreo?
SD – “É necessário impedir o crescimento do volume de voos no Santos Dumont, limitando sua capacidade a cerca de 5 milhões de passageiros por ano, enquanto todo o restante deve ser direcionado ao Galeão. Precisamos restringir o número de voos no Santos Dumont de acordo com a capacidade da infraestrutura. Ao fortalecer o Galeão, com aumento na demanda e no número de passageiros, será possível atrair voos internacionais.”
CF – Há algum diálogo em andamento com o governo federal ou outros órgãos para tratar da recuperação do Galeão?
SD – “Esse assunto está sendo debatido pela prefeitura do Rio de Janeiro, pelo governo do estado e por várias entidades empresariais, como a Rio Indústria. Já existe um diálogo em andamento há algum tempo. Conquistamos mudanças na quantidade de operações no Galeão, que, embora tenha visto uma diminuição significativa na sua ocupação, ainda enfrenta a ameaça do aumento de voos no Santos Dumont. A sociedade civil e o setor político devem se manifestar de forma firme para evitar essa expansão, que afetaria negativamente a economia ao retirar voos do Galeão.”
CF – Na sua visão, o que impede o Galeão de competir com outros hubs aéreos no Brasil e na América Latina?
SD – “O custo do querosene e questões de segurança pública afetam a operação do Galeão. Embora esses problemas possam ser resolvidos e já estejam sendo abordados pelo governo do estado e pela prefeitura, o Galeão tem todas as condições para se tornar, como já foi, um hub aéreo importante. Ele está localizado próximo ao centro da cidade, possui uma infraestrutura adequada e uma pista longa que recebe grandes aeronaves. A competição com o Santos Dumont, que é muito próximo e serve voos curtos, esvazia o Galeão. Se os voos domésticos forem retirados do Galeão, o aeroporto perde sua capacidade de operar como um hub. Portanto, a prioridade atual é evitar que o Santos Dumont amplie o número de passageiros e direcionar esse excesso para o Galeão.”
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