O Dia Mundial do Urbanismo é celebrado nesta sexta-feira, 8 de novembro. Para marcar a data conversamos com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, Sydnei Menezes. Em pauta, a urgentíssima questão climática e sua relação com o espaço urbano das grandes cidades e seu desenvolvimento quase sempre desordenado.
Abordamos ainda um olhar para o futuro da nossa capital e como resposta tivemos um alerta: É preciso planejar e agir para que a cidade não se torne inviável para se viver daqui a dez anos.
Confira abaixo a entrevista com Sydnei Menezes, presidente do CAU-RJ
Conexão Fluminense – No dia 8 de novembro celebramos o Dia Mundial do Urbanismo.
Falando sobre desenvolvimento, quais medidas são consideradas urgentes?
Sydnei Menezes – “No campo do urbanismo as medidas urgentes são a implementação nas prefeituras e nos poderes locais de um setor de planejamento urbano para poder implantar um reordenamento territorial, o uso e ocupação do solo dentro de uma dinâmica de desenvolvimento estratégico e econômico e ainda na questão da modernização, atualização e simplificação da legislação urbanística e edilícia principalmente no que diz respeito aos processos de licenciamento e de projetos e de obras.
Além de evidentemente tratar das questões e buscar soluções relacionadas a transporte, mobilidade, saneamento, infraestrutura urbana, habitação e tantas outras ações fundamentais para o cotidiano da cidade.”
CF – A CAU/RJ participou recentemente de discussões sobre o enfrentamento climático em evento em Manaus. Como a entidade vê a preparação para a COP30 e as ações de combate às mudanças climáticas?
SM – “Nós temos de tratar deste tema em duas vertentes: Primeiro uma vertente macro, que é a vertente planetária. A gente precisa fazer com que a agenda em torno das questões climáticas avance e aconteça. Hoje nós temos um problema que não são mais as mudanças climáticas, mas sim as mutações climáticas e agora o exemplo mais recente é o que está acontecendo no Sul da Espanha. Então isso é uma questão que precisa ser tratada em uma escala que não é nacional e sim uma escala mundial, planetária.
A outra questão é local. É o dever de casa. No caso das cidades, das gestões locais, das governanças municipais, além de cuidar da infraestrutura urbana, principalmente das redes de drenagem e redes pluviais, com limpeza permanente e tudo mais, tratar rios, córregos, lagos, lagoas, além disso tudo nós precisamos adotar ações de implantação no solo das cidades de uma noção de permeabilização permanente. O que existe hoje é ao contrário. É uma impermeabilização dos terrenos através de calçamento, de asfalto totalmente inadequados.
Hoje existe sistemas de pavimentação pública e urbana em que você pode utilizar materiais absolutamente permeáveis que permitem que haja absorção da água da chuva quando acontecer tais precipitações.
Outra coisa é cuidar das áreas verdes da cidade, dos parques, dos jardins. E o mais importante: Uma política de arborização plena nas cidades, pois para combater as grandes diferenças de temperaturas climáticas, os microclimas locais e regionais você deve combater através do plantio generoso de árvores.”
CF – O urbanismo sustentável é uma realidade necessária. Como está a capital fluminense e demais cidades do Rio neste assunto?
SM – “A cidade do Rio de Janeiro tem feito alguns deveres de casa, está cumprindo algumas ações, mas ainda está longe de ser considerada uma cidade sustentável sob o ponto de vista urbano, sob o ponto de vista ambiental. Nós ainda não tratamos o lixo de uma forma moderna, nós não reciclamos, ainda temos não só na capital, mas também no interior problemas sérios de saneamento básico, que é uma agenda do século passado que nós ainda não conseguimos resolver.
A ocupação desordenada principalmente nas faixas marginais de rios, lagos, lagoas, córregos e morros que causam consequentemente não só problemas nas enchentes, mas também desmoronamentos e deslizamentos destas áreas que não deveriam estar ocupadas. Então há uma série de ações que ainda precisam ser evoluídas e avançadas.”
CF – A capital fluminense é uma cidade que enfrenta graves questões voltadas à ocupação do espaço urbano. Como seria o Rio ideal, daqui há dez anos?
SM – “Nós já abordamos essa questão nos outros aspectos, mas se nada for feito daqui a dez anos nós teremos uma cidade absolutamente inviável, com essa ocupação desordenada avançando e há algum tempo você já percebe nessas áreas que não deveriam ser ocupadas, principalmente nas áreas ambientalmente frágeis você percebe que além de termos comunidades consolidadas existe já um processo de verticalização dessas comunidades, o que torna a solução cada vez mais difícil.
É preciso que tenha, então, para estes dez anos, um planejamento. Planejamento é aquilo que é feito para antever o que vai acontecer. Você toma ações naquilo que você está prevendo acontecer. Então nós precisamos planejar a cidade sob o ponto de vista ambiental, urbano, sob o ponto de vista dos transportes públicos, de modo que você possa ter uma cidade funcional e que atenda a dinâmica do ir e vir das pessoas, na qualidade de vida e consequentemente criando um ambiente saudável e agradável sob todos os aspectos.”
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