*Por Flávio Cure
O DILEMA DO TRATAMENTO DA OBESIDADE:
A obesidade impõe um enorme fardo de sofrimento aos pacientes e custo social. Afeta 42% dos adultos nos EUA, e sua prevalência global está aumentando. Por ser uma condição crônica, as complicações e doenças associadas também são comuns, resultando em significativa morbidade e mortalidade. Entre elas, destacam-se diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono, osteoartrite, doenças cardiovasculares e câncer. Em 2016, o custo total das doenças crônicas atribuíveis à obesidade foi estimado em US$ 1,72 trilhões. Como fator de risco, a obesidade representa 47,1% dos custos diretos e indiretos das doenças crônicas nos EUA.
Novos medicamentos para tratar a obesidade têm mostrado eficácia e segurança transformadoras. A primeira geração de medicamentos, aprovada até 2014, inclui opções como fentermina, orlistat, fentermina-topiramato, naltrexona-bupropiona e liraglutida. Embora eficazes, esses medicamentos resultam em perda de peso média inferior a 6%-10% nos ensaios clínicos.
Nos últimos três anos, foram aprovados medicamentos de segunda geração, como semaglutida (Ozempic e Wegovy)e tirzepatida, que alcançam reduções de peso de até 20%. Esses medicamentos são mais eficazes na prevenção de diabetes tipo 2, melhora de lipídios, pressão arterial e qualidade de vida. A Semaglutida também trata esteatose hepática não alcoólica e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, além de prevenir eventos cardiovasculares e retardar o declínio da função renal em pacientes cardiometabólicos.
Apesar dos avanços, esses medicamentos permanecem inacessíveis para muitos pacientes devido ao custo elevado (cerca de US$ 1.000 por mês nos EUA). Muitos sistemas de saúde e seguradoras ainda tratam a obesidade como uma escolha de estilo de vida, não como doença, dificultando a cobertura desses tratamentos. As consequências da obesidade levam anos para se manifestar de forma grave, tornando difícil justificar investimentos imediatos. Além disso, seguradoras aguardam a redução dos preços antes de ampliar o acesso aos medicamentos.
RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA: UM CHAMADO À AÇÃO.
Desde 2016, diretrizes baseadas em evidências têm defendido uma abordagem centrada nas complicações para o manejo da obesidade. No entanto, diversos obstáculos impedem o acesso dos pacientes, incluindo estigmatização e preconceito, tanto entre profissionais de saúde quanto na sociedade. Essa mentalidade limita mensagens eficazes de saúde e o desenvolvimento de programas de tratamento multidisciplinar para obesidade.
Os pacientes merecem respeito e acesso ao espectro completo de opções terapêuticas, incluindo medicamentos. Eles devem ser informados sobre opções baseadas em evidências e apoiados por equipes interdisciplinares, que podem incluir médicos, psicólogos, nutricionistas e fisiologistas do exercício.
Profissionais de saúde devem tratar a obesidade como condição crônica que exige acompanhamento de longo prazo. Médicos de atenção primária precisam se atualizar sobre tratamentos e, quando necessário, encaminhar para especialistas ou cirurgia bariátrica. Médicos especialistas, como endocrinologistas e cirurgiões bariátricos, devem coordenar equipes multidisciplinares e defender o acesso a opções de manejo abrangentes.
Sistemas de saúde e empregadores têm um papel fundamental na infraestrutura necessária para cuidados contínuos. Além disso, políticas públicas precisam reconhecer a obesidade como doença crônica, garantindo acesso universal a tratamentos.
A indústria farmacêutica, por sua vez, deve buscar equilibrar lucros com preços acessíveis, permitindo que os medicamentos cheguem a quem mais precisa. Além disso, é necessário combater práticas prejudiciais, como o uso de medicamentos falsificados ou prescrições online sem supervisão adequada.
CONCLUSÃO:
Os medicamentos de segunda geração para obesidade têm potencial transformador, mas ainda enfrentam barreiras de custo e acesso. Uma ação coordenada entre pacientes, profissionais de saúde, sistemas de saúde, empregadores, formuladores de políticas e a indústria farmacêutica é essencial para garantir que os benefícios dessas terapias alcancem todos os pacientes que precisam.
Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.
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