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Como o exercício físico pode reduzir a progressão do câncer e aumentar a sobrevivência

O cardiologista Flávio Cure joga luz sobre os estudos que mostram a força do exercício físico no trabalho de prevenção e tratamento do câncer

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16 de janeiro de 2025
Como o exercício físico pode reduzir a progressão do câncer e aumentar a sobrevivência
Os resultados indicaram que os participantes mais ativos apresentaram 27% menos chances de progressão do câncer e 47% menos risco de morte por qualquer causa.

*Por Flávio Cure

O câncer continua sendo uma das principais causas de morte ao redor do mundo, e suas implicações afetam não apenas os pacientes, mas também seus familiares e comunidades. Pesquisadores buscam constantemente estratégias complementares que possam auxiliar no enfrentamento dessa doença. Uma dessas abordagens, cada vez mais estudada, é o papel do exercício físico.

Um estudo publicado no periódico científico British Journal of Sports Medicine analisou como a prática de atividade física antes do diagnóstico pode influenciar a progressão do câncer e a mortalidade. O foco foi em participantes na África do Sul, que participaram de um programa de saúde para incentivar atividades físicas. Os resultados são encorajadores, pois mostram que até mesmo níveis baixos de exercício podem trazer benefícios significativos.

O estudo envolveu mais de 28 mil pessoas diagnosticadas com câncer em estágio inicial. Esses participantes estavam inscritos em um programa de saúde que registrava atividades físicas por meio de dispositivos vestíveis e frequência em academias. Eles foram divididos em três grupos: inativos, com baixo nível de atividade (1 a 59 minutos por semana) e com nível moderado a alto (1 hora ou mais por semana).

Os resultados indicaram que os participantes mais ativos apresentaram 27% menos chances de progressão do câncer e 47% menos risco de morte por qualquer causa. Essa descoberta é especialmente importante, considerando que muitas pessoas podem não alcançar os níveis ideais de atividade recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda assim podem se beneficiar de movimentos regulares.

Entre os tipos de câncer analisados, estavam o de próstata, mama e pele, que são comuns globalmente e também no Brasil. Os dados revelaram que mesmo uma quantidade modesta de atividade física, como uma caminhada semanal de 60 minutos, pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Por exemplo, aqueles com níveis moderados ou altos de atividade antes do diagnóstico tinham uma probabilidade maior de 80% de não sofrer progressão da doença em dois anos.

Já entre os sedentários, essa probabilidade era de apenas 74%. É importante destacar que a atividade física não se limita apenas a exercícios estruturados. Movimentos do dia a dia, como caminhar até o trabalho ou realizar atividades domésticas, podem contribuir para a saúde geral. Esses dados reforçam que qualquer esforço conta na luta contra o câncer.

Os pesquisadores ressaltaram que, apesar dos resultados promissores, o estudo possui limitações. Ele foi realizado com participantes de um programa privado de saúde na África do Sul, o que limita a generalização dos resultados para populações mais amplas. Além disso, fatores como tabagismo, IMC e atividades físicas não registradas (como trabalho pesado) não foram completamente contabilizados, o que pode influenciar as conclusões.

No entanto, os achados reforçam a importância do movimento como uma ferramenta poderosa de saúde pública. No Brasil, onde o sedentarismo é prevalente, esses achados são especialmente relevantes. Estudos mostram que grande parte da população brasileira não atinge os 150 minutos semanais recomendados de atividade física moderada pela OMS. Isso evidencia a necessidade de campanhas de conscientização.

Os benefícios do exercício vão além da prevenção e do tratamento do câncer. Atividades físicas regulares também ajudam na melhora do humor, no controle do peso e na redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e até mesmo demências. Para os médicos, incluir o incentivo ao exercício nas consultas pode ser um passo simples, mas de grande impacto.

Como destacou o autor do estudo, Dr. Jon Patricios: “O exercício é uma das prescrições mais acessíveis e eficazes que podemos oferecer aos nossos pacientes.” Ele também aponta que a adesão às diretrizes da OMS, com 300 minutos de atividade semanal, pode potencializar os benefícios à saúde.

Adotar hábitos saudáveis, como caminhar, pedalar ou até mesmo dançar, pode fazer a diferença. Movimente-se pela sua saúde e pela qualidade de vida, pois cada passo conta nessa jornada contra o câncer. Esses hábitos, além de contribuírem para a saúde física, têm um impacto direto no bem-estar emocional, criando um ciclo positivo para pacientes e familiares.

Essas informações são um chamado à ação para a sociedade, os profissionais de saúde e os próprios pacientes. Cada pequena mudança na rotina pode ser um passo importante para viver melhor e enfrentar os desafios do câncer com mais força e esperança.


Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.

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