A pouco mais de um ano da realização das eleições de 2026, o cenário eleitoral fluminense já está quente e a temperatura começa a subir com as articulações dos apoios aos presidenciáveis e a corrida ao Palácio Guanabara, que pode ter a volta de um nome conhecido do eleitorado fluminense.
O ex-governador Wilson Witzel eleito pelo povo em 2018 e que foi retirado de seu cargo em 2021 se coloca novamente como opção ao Palácio Guanabara.
Nome forte do combate à segurança pública no Rio, Witzel tem no assunto uma de suas premissas e em uma conversa com a equipe do Conexão Fluminense apontou os caminhos para a resolução de um dos problemas mais crônicos do nosso estado.
Veja abaixo a entrevista:
Conexão Fluminense – O Rio de Janeiro é um barril de pólvora. Você acha que dá para ser otimista com o futuro da cidade?
Wilson Witzel – Antes de responder a essa pergunta, é importante fazer um retrato do que foi a minha eleição em 2018. O Rio já estava em uma situação de calamidade na Segurança Pública e nas áreas econômica e social. Naquele ano, é bom frisar, havia uma intervenção no Estado com as Forças Armadas tomando conta da Segurança Pública e naquele momento houve uma redução nos índices de homicídios, algo em torno de 7%.
Pode parecer pouco, mas é um número elevado para quase 5 mil mortes por ano no Estado. Em 2019, quando assumimos o Governo do Rio, com um grito de salvação da população que não queria mais esse grupo político que governava o Rio de Janeiro até então e que tanto mal fez ao Estado. Para se ter uma ideia do que estou falando, a cidade do Rio de Janeiro tinha muitas dívidas e se tornou a mais insolvente do Brasil. Na área social, também com o aumento da miséria nas comunidades, demonstra falência da administração pública. Quando assumimos em 2019 com vários projetos voltados para essas áreas, da Segurança Pública, área social e econômica.
Na Segurança Pública, eu tomei algumas decisões que foram fundamentais para que não houvesse mais interferência política na Polícia Militar. Extingui a Secretaria de Segurança Pública para que o comandante da Polícia Militar tivesse uma relação direta com o governador e impedisse que todos os comandantes dos batalhões fossem nomeados por indicação política. Isso, já causou uma grande revolta em uma área política do Rio que tem relação com a milícia da Zona Oeste. Eu não permiti que o comandante do batalhão daquela região fosse indicado politicamente.
Um exemplo é que o miliciano Zinho foi combatido com rigor. Da mesma forma, na Polícia Civil, eu passei a ter um secretário que teve determinação para criar uma delegacia especializada no combate à lavagem de dinheiro. Lógico, e bem sei disso, que isso trouxe fantasmas para alguns deputados estaduais que essa investigação chegue em atos ilícitos que eles próprios poderiam estar fazendo. A classe política, não todos, mas uma considerável parcela, não estava preparada para um governador eleito pelo povo e não pela classe política. Eu, Wilson Witzel, furei essa bolha e isso causou uma reação muito forte e com ações criminosas de produção de todo tipo de informação para causar um rompimento entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
O absurdo era tanto, a ponto de falarem que eu, à época governador, estaria fazendo escutas telefônicas de forma clandestinas contra os deputados. Isso nunca aconteceu! Isso gerou um ambiente para impedir a continuidade do meu governo, o que de fato aconteceu em 2021. O que restou desse impedimento foi apenas o prazo para eu não me candidatar de novo e que se encerra em abril de 2026, que inclusive está no artigo 78 da Lei 1079 que estabelece um prazo de 5 anos.
Nesse prazo de 5 anos, os processos foram anulados e nada do que foi dito sobre mim foi aprovado. É isso! Agora, se eu sou otimista em relação ao Rio? Sim, mas precisamos retomar o trabalho que fizemos em 2019 e 2020 e é possível fazer isso. Eu digo sempre que para governar o Rio de Janeiro, não pode ser alguém curioso na Segurança Pública ou que age com ações de populismo. Temos soluções para a Segurança Pública, social e econômica. Estou disposto a novamente reagir a essa situação que vivencia o Rio de Janeiro.

Conexão Fluminense – O senhor acha que em um cenário político rachado o seu nome chega com muita força?
Wilson Witzel – Exatamente. O nosso objetivo é unir pessoas com o mesmo ideal. Eu não vou dizer aqui que vou rejeitar apoio de qualquer lado, pois todo apoio é bem-vindo. Acredito que a política do Estado, aquela que quer a mudança, ou aquele grupo de políticos que não querem ser mais capturados por essa liderança nefasta que tanto mal fez ao Estado continue. Temos um grupo de políticos que nunca teve condições de impor mudanças porque a liderança sempre foi a pior possível do Estado. Acredito que eu posso ser essa esperança que o Rio de Janeiro tem de mudar o rumo da política, da economia e da questão social do nosso Estado. A polarização tem se mostrado ruim para o Brasil, então, nós temos que convergir para boas práticas e boas ideias. Eu, sinceramente, estou disposto a isso!

“A polarização tem se mostrado ruim para o Brasil, então, nós temos que convergir para boas práticas e boas ideias“
Conexão Fluminense – Vivemos as questões das barricadas e os sequestros de ônibus no Rio. Qual a solução para enfrentar esses problemas?
Wilson Witzel – Ora, a política pública não é isolada de outras políticas que devem andar juntas. Nossa proposta sempre foi endurecer o combate ao crime organizado, especialmente na implantação de técnicas de combate à lavagem de dinheiro. Enquanto o crime tem dinheiro decorrente da venda de drogas e de serviços e isso não é combatido, está empoderado.
É preciso fortalecer o combate à lavagem de dinheiro para identificar de que forma está sendo irrigado financeiramente esses grupos. Fazendo isso, a tendência é resultar em operações de bloqueios de bens e prisão das pessoas que estão lavando o dinheiro do crime organizado. E vamos chegar aos grandes empresários que fazem toda a logística do caminho da droga saindo da Bolívia, do Peru, da Colômbia para chegar ao Brasil e à Europa. Esse é o primeiro ponto, ou seja, a Polícia Civil tem que ter um departamento especializado com pessoas preparadas em parceria com o Ministério Público e com o Poder Judiciário.
Basta lembrar que eu criei cinco varas especializadas, das quais três estão instaladas no combate ao crime organizado no Rio. É preciso retomar esse trabalho, doa a quem doer, porque o crime vai continuar avançando. Paralelo a isso, é preciso repensar a ação da Polícia Militar nas comunidades cariocas ao trocar tiros com os criminosos. Resumindo: esse trabalho deverá ser realizado em uma união desse grupo de combate à lavagem de dinheiro, o Ministério Público e as varas especializadas. Essas ações de combate ao narcoterrorismo serão totalmente conduzidas em parceria com o Poder Judiciário.
Teremos 100 dias de preparação e colocaremos em prática o grupo de atividade antiterrorismo e o departamento de lavagem de dinheiro. Sem esquecer do uso da tecnologia, como por exemplo, o uso de drones para sobrevoar as comunidades a fim de identificar os líderes dessas organizações criminosas. E é claro, fazer o bom uso das câmeras com reconhecimento facial que implantei aqui em 2019. Em linhas gerais, serão essas medidas adotadas por nós para enfraquecer o crime organizado no Rio de Janeiro. Ninguém coloca uma barricada sem uma ordem específica. Ninguém sequestra um ônibus porque se acha o cara. Vamos investigar para saber quem está dando essa ordem e chegaremos a esse chefe, tenha certeza!
Conexão Fluminense – E o Comunidade Cidade. Foi o senhor que implantou esse projeto social no Rio?
Wilson Witzel – O Governo do Rio está tentando implantar numa comunidade o projeto que eu já falava em 2018. O Comunidade Cidade tem como objetivo levar não apenas a Polícia Militar, mas levar uma nova realidade econômica às comunidades, onde você cria opções de trabalhos. São cinco programas para oferecer àquele jovem da comunidade oportunidades de trabalho, para que eles compreendam o ciclo econômico das comunidades e levar obras e serviços.
Um dos maiores problemas nas comunidades carentes do Rio de Janeiro hoje é coleta de lixo. O que temos que fazer é criar um programa de controle ambiental para coletar esse lixo em parceria com os moradores da própria comunidade. Pretendemos também com a Comunidade Cidade gerar um milhão de bolsas de estudos para trazer esses jovens para uma outra realidade. Vamos retomar esse programa, já que substituiremos o comércio ilegal de armas e drogas na vida desses jovens e desempregados para um comércio com uma perspectiva de algo melhor do que o crime.
Conexão Fluminense – Como entrar em uma guerra contra o terrorismo instaurado na cidade sem esquecer dos direitos humanos?
Wilson Witzel – Veja bem, não é uma guerra que estamos querendo propor para o Rio de Janeiro. Não, não é isso! Estamos querendo propor, e quero deixar claro isso, ações policiais de combate ao terrorismo e combate à lavagem de dinheiro. O meu governo não vai fazer ou promover nenhum tipo de guerra, que não é o caso.
Mas vamos agir como Estado para colocar ordem na casa. A visão que nós temos hoje é que não é uma guerra, mas uma ação efetiva da polícia. Por isso, queremos criar os 40 distritos policiais do Rio de Janeiro, ou seja, a área do Batalhão da Polícia Militar passa a integrar também as Polícias Civis que atuam ali. Uma integração nunca vista em nenhum outro governo, que a gente pretende coordenar os comandos desses batalhões com os delegados. E essa integração entre as polícias Civil e Militar vai facilitar essa troca de informações e ajudar a combater à violência que existe no Estado.
Outra coisa importante é tornar ágil a atuação da investigação, inclusive implantando um sistema eletrônico para o inquérito. Nossa meta é encurtar esse distanciamento que existe entre as policiais Civil e Militar que já era para funcionar na nossa cidade. Lugar de PM é na rua, realizando patrulhamento ostensivo, prendendo bandido, apreendendo drogas e armas. A criação desses 40 distritos vai ser um grande avanço e as conversas com os delegados já foram iniciadas para explicar que será um modelo para potencializar o trabalho deles.
Conexão Fluminense – Qual a solução que o senhor daria para o crescimento do Produto Interno Bruto no Rio de Janeiro?
Wilson Witzel – Hoje nós estamos sendo ultrapassados por Minas Gerais e Paraná. Existem áreas estratégicas que o Rio de Janeiro tem potencial, mas que não estão sendo aproveitadas e, lógico, nós já estávamos de olho nelas. Tanto que eu tinha como proposta, dotar a Secretaria de Agricultura de recursos necessários para fazer a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro, a nossa Emater, pesquisar essas áreas e encontramos cerca de 500 mil hectares para plantar soja no Estado.
Essa área econômica é prioridade e vai ser conduzida com a área social e com a área da Segurança Pública de forma responsável e estratégica para que o Rio de janeiro possa ter um novo horizonte econômico. E os recursos? Temos que conversar com o Governo Federal e usar os recursos próprios para criar o Banco de Desenvolvimento do Estado que pode nascer com R$ 10 a 20 R$ milhões. Sei que há recursos para isso e podemos fazer que isso seja uma realidade.
Conexão Fluminense – E como o senhor trabalha a sua fé?
Wilson Witzel – Olha, a minha eleição em 2018 era 1% na pesquisa, mas 100% de fé. Eu sou um cidadão indignado. Poderia ter continuado como juiz federal e estaria me encaminhando para ser promovido para o tribunal como desembargador e concorrendo a ministro do STJ.
Mas eu abri mão de tudo isso por uma causa que é acreditar que nós precisamos fazer algo diferente. Viver mais do mesmo, para mim, poderia lá no futuro ser com os meus filhos, os meus familiares, os meus amigos… enfim, para todos nós! Eu tomei a decisão de dar um passo muito difícil na minha vida, abri mão do meu conforto e da minha tranquilidade como juiz federal para me doar a uma causa que é ajudar o Rio de Janeiro a sair dessa situação de calamidade de Segurança Pública, na área social e econômica.
Tenho uma formação diferenciada, já que fui fuzileiro naval, oficial da Marinha, defensor público, juiz federal, sou professor, estudei em Segurança Pública em curso de pós-graduação… então a vida me preparou e tomei a decisão de abrir mão da minha situação confortável em razão de uma causa que é governar o Rio de Janeiro.
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