Geosmina. Essa palavra um tanto quanto estranha dominou a roda de conversas no Rio em 2021 e se tornou até trending topics de rede social. E na prática ela revelava um sério problema a ser resolvido pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). A presença desta substância mudava o aspecto, o gosto e o cheiro da água que chegava as torneiras da população do Rio de Janeiro. Era preciso resolver a questão.
No fim do ano passado, o presidente da Cedae, Leonardo Soares, deu uma entrevista e cravou: “Vamos ter um verão sem geosmina”. O executivo deu a sentença baseada nos investimentos que começaram logo após o verão de 2021 e já davam resultado.
Pouco mais de três meses depois desta entrevista, o outono chegou, sem que o drama da água com gosto e cheiro afetasse a população do Rio de Janeiro novamente, como nos dois verões anteriores. “A geosmina é comum em toda parte do mundo e exige sempre enfrentamentos diferentes. Começamos a fazer testes com soluções específicas e identificamos as mais eficazes, que nos garantiram um verão sem sustos”, afirma Soares.
Mais frio, menos geosmina
A Cedae instalou, em abril de 2021, um conjunto de bombas que transportam 3 mil litros por segundo de água do rio até a Lagoa Grande, último ponto antes da captação de água na Estação de Tratamento do Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O bombeamento acelerou a vazão e reduziu a temperatura média da água da lagoa em cerca de 5° C.
“A geosmina acelera sua proliferação em águas mais quentes. Reduzir a temperatura da lagoa nos nossos verões quentíssimos foi muito importante”, destaca o diretor de Saneamento e Grande Operação, Daniel Okumura.
A segunda medida adotada para impedir a proliferação de algas na lagoa foi a instalação de oito boias de ultrassom em seu espelho d’água. A Cedae investiu R$ 4,3 milhões na importação de equipamentos holandeses que emitem ondas de ultrassom de baixa potência e mantêm as algas abaixo da superfície, longe da luz solar, impedindo sua proliferação. As boias, que funcionam com energia solar, ainda monitoram em tempo real parâmetros fundamentais para saber se há risco de cair a qualidade da água.
Após ver os investimentos darem certo e impedir o aparecimento da geosmina, a Cedae segue o plano para garantir água limpa. Em parceria com a Secretaria Estadual do Ambiente e Sustentabilidade (Seas) e com o Comitê Guandu-RJ, a Companhia investe R$ 108 milhões na construção de duas Unidades de Tratamento de Rios (UTRs), uma no Rio Queimados e outra no Rio Ipiranga. As UTRs lançam microbolhas na água, que formam um “colchão” que traz os poluentes para a superfície na forma de espuma, permitindo sua retirada. O processo remove da água quase 100% do fósforo, principal nutriente das algas.
Com investimentos de R$ 800 milhões, a estação ETA Guandu passa por uma série de obras, desde 2021, com previsão de conclusão para 2023. Foram adquiridos equipamentos e realizada a reforma das instalações, incluindo a modernização dos filtros e decantadores, substituição de válvulas e reformulação do Centro de Controle Operacional (CCO) e do sistema de monitoramento. Além disso, o laboratório de análise de qualidade da água da ETA também passa por modernização.