Tia Surica ao centro no desfile da Portela
“Se for falar da Portela hoje eu não vou terminar”. É como diz a canção de Paulinho da Viola. E da Portela há muito o que se falar. A agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira, na Zona Norte carioca, que acumula 22 campeonatos no Carnaval, completa nesta quinta-feira, 11 de abril, 101 anos de glória.
Conhecida pelas cores azul e branca, e pelo símbolo da águia, a Portela é a única a participar de todos os desfiles da cidade. Fundada em 11 de abril de 1923, a agremiação é a mais antiga e maior vencedora do carnaval carioca. O último foi conquistado em 2017, depois de mais de três décadas de jejum.
Entre os sambas-enredo mais emblemáticos, alguns se destacam, como Lendas e Mistérios da Amazônia, de 1970, que trazia referências aos povos, lendas e folclores da floresta; Contos de Areia, de 1984, que homenageava Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes, representados pelos orixás Oranian, Oxóssi e Iansã; e Gosto que me Enrosco, de 1995, sobre a história do carnaval no Brasil.
Nomes famosos do samba carioca fazem parte da história da escola: Paulo da Portela, Natal, Candeia, Monarco, Paulinho da Viola e Tia Surica. Esta última é a atual presidenta de honra. O presidente em exercício é Fábio Pavão, eleito em 2022.
A histórica de Iranette Ferreira Barcellos, de 82 anos, a Tia Surica, se confunde com a própria história da Portela. Ainda criança, esse Patrimônio do Carnaval carioca, começou a desfilar pela agremiação, acompanhada de sua mãe, com apenas 4 anos. O apelido Surica, um adjetivo usado para roupa curta ou apertada, foi dado pela avó e lhe caiu muito bem. Afinal, hoje, a Tia tem 1,47m de altura, mas muita história para contar sobre o samba e o Carnaval.
A matriarca sambista, que está na velha guarda da Portela desde 1980, se tornou, em 1966, a primeira mulher a puxar um samba-enredo na Avenida e a levar o título para casa. Ela interpretou “Memórias de um Sargento de Milícias”, único samba-enredo composto por Paulinho da Viola.
Também já gravou discos em conjunto com outros nomes da Portela. Seu primeiro disco solo foi lançado em 2004, aos 63 anos, e produzido por Maestro Paulão 7 Cordas. Em 2015 ela foi eleita Cidadã do Samba, sendo a primeira mulher a ganhar esse prêmio. Prêmio importante que já teve como ganhadores, Paulo da Portela, Cartola, Xangô da Mangueira e outros.
O Conexão Fluminense conversou com a matriarca da Portela. Sempre muito bem-humorada e cheia de sonhos, Tia Surica nos contou um pouco sobre seu amor pela escola e suas realizações.
Conexão Fluminense: Tem como pensar na Portela, sem lembrar da senhora, que está na agremiação há 77 anos. Como a senhora se sentiu quando foi convidada a ser presidente de Honra da Portela?
Tia Surica: Fiquei muito lisonjeada pelo convite para ser presidente de Honra da minha escola. É como sempre digo e repito, estou recebendo flores em vida.
“Falei sobre a minha vida, sobre o meu sucesso, então acho que foi muito bem aceito, então eu fiquei muito satisfeita.”
Tia Surica, ao lado da Rainha de Bateria Bianca Monteiro, sobre seu livro
Conexão Fluminense: A senhora lançou sua biografia na Bienal do Livro, no anos passado, aos 82 anos, contando sua trajetória. A mais nova obra é tão boa quanto à feijoada ? Pensa em lançar mais algum livro?
Tia Surica – Rsss…Se Deus quiser pretendo. Enquanto há vida, há esperança. E a esperança é a última que morre. Graças a Deus teve uma boa vendagem. Falei sobre a minha vida, sobre o meu sucesso, então acho que foi muito bem aceito, então eu fiquei muito satisfeita.
Conexão Fluminense – E por falar em feijoada, a sua tradicional e deliciosa feijoada agora faz parte do calendário oficial da cidade. A senhora sempre gostou de receber amigos e sua feijoada se tornou um ponto de encontro de personalidades. Quais dessas personalidades estavam sempre na sua feijoada?
Tia Surica – Foram vários….até o Carlinhos Brown ! Teve uma vez que tava rolando aqui uma roda de samba com feijoada e ele apareceu, de repente. Era Beth Carvalho e outros. Muitas personalidades passaram aqui pelo cafofo na feijoada. E eu fico muito satisfeita. O cafofo tem história !
Conexão Fluminense – A Portela divulgou seu enredo para 2025, Milton Nascimento. A senhora teve algum posicionamento sobre essa decisão? O que esperar de uma homenagem tão grande quanto essa?
Tia Surica – Tive, sim. Eu fui para o estúdio e gravei um samba antigo, pra fazer a abertura. Eu já sabia que ia ser o Milton Nascimento
Conexão Fluminense – A escola de samba, mesmo com tantas mudanças, ainda é um espaço bastante masculino. A senhora começou a frequentar Portela, aos 4 anos, ainda criança. E depois nunca mais saiu. Como era naquele época uma mulher estar num meio, masculino e cercado de preconceitos?
Tia Surica – Eu comecei com 4 anos como você falou. Com todo preconceito daquela época eu preferia. Com roda marginalização. O samba era marginalizado. Naquela época tinha amor à escola, vestiam a camisa. Atualmente, o samba, tem quem está e quem é. O samba mudou muito. O samba perdeu sua identidade.
Será realizada a sua missa de aniversário, celebrada pelo Padre Marcelo Freitas, o tradicional parabéns e bolo para comunidade portelense. Após a missa, a atração ficará por conta da Banda Nave de Prata, que fará um show no palco da Portela em tributo a Milton Nascimento, cantando os maiores sucessos da carreira do grande homenageado do carnaval de 2025.
O evento, que também terá uma pequena apresentação dos segmentos da escola, será realizado na quadra da Portela, que fica localizada na Rua Clara Nunes, 81 – Oswaldo Cruz, a partir das 19h.
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