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Dos Arengueiros para o mundo. Mangueira faz 94 anos com história que vai além do samba

A história do verde e rosa mundialmente famoso se confunde com a trajetória do Carnaval. Primeira campeã, a Mangueira é mais que samba.

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28 de abril de 2022
Dos Arengueiros para o mundo. Mangueira faz 94 anos com história que vai além do samba
Desfile da Mangueira em seu último título, em 2019. Crédito: Fernando Grilli / Riotur

Com seu verde e rosa mundialmente famoso, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira celebra nesta quinta-feira, 28 de abril, 94 anos de uma história gloriosa que se mistura com a trajetória do Carnaval do Rio de Janeiro. A agremiação foi a primeira a ganhar o concurso de desfiles, em 1932 e acumula desde lá 20 títulos, sendo o último em 2019. Mas como tudo começou?

No Rio Oitocentista, o Morro da Mangueira, colado à Quinta da Boa Vista, que levava esse nome pela quantidade de pés de Manga que havia no local, abrigava vários moradores, cada um com sua crença e sua origem. Os batuques e cantos dos ancestrais faziam som nos casebres que serviam de templos do candomblé e umbanda.

Quando chegava o Carnaval, via-se uma questão que pode ser tratada como a semente da Escola de Samba. Àquela época o Morro da Mangueira já era reduto do samba e os moradores, que não podiam participar dos refinados desfiles de “brancos”, criavam sua própria folia em blocos familiares. A questão é que os melhores sambistas do morro, considerados bagunceiros pelos hábitos de bebida e briga, eram impedidos de participar dos blocos do morro.

Nasce a Estação Primeira de Mangueira

A história conta quem a solução veio em 1923. O Bloco dos Arengueiros, formado só por homens, desfilou com seus componentes vestidos de mulher e com o objetivo de arrumar confusão com os outros blocos. O resultado foi uma confusão generalizada e prisão para os brigões.

Cinco anos depois, em 28 de abril de 1928, veio a ideia que mudaria o curso do samba no morro da Mangueira. Os melhores sambistas da região resolveram se juntar e criar o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. São eles Angenor de Oliveira (Cartola), Saturnino Gonçalves (Seu Saturnino), Abelardo da Bolinha, Carlos Moreira de Castro (Carlos Cachaça), José Gomes da Costa (Zé Espinguela), Euclides Roberto dos Santos (Seu Euclides), Marcelino José Claudino (Seu Maçu) e Pedro Paquetá. Como seu primeiro presidente, elegeram o Sr. Saturnino Gonçalves.

Em 1978, 50 anos depois de fundar a Mangueira, Cartola faz seu último desfile na Escola.
Crédito: Reprodução

O nome veio do fato de que a primeira estação do trem que saía da Estação Dom Pedro, no Centro, para o subúrbio, ficava ali no morro. O mundialmente famoso verde e rosa foi uma sugestão de Cartola, que se inspirou no Rancho do Arrepiado, de Laranjeiras, lembrança dos Carnavais de sua infância.

Quatro anos depois, em 1932, a Estação Primeira de Mangueira se tornava a primeira campeã do concurso de Escolas de Samba, promovido pelo jornalista Mário Filho. O desfile na Praça Onze abriu alas para uma história de muita glória e um alcance social que nem o mais otimistas do partido alto da Mangueira oitocentista imaginava.

De lá para cá, enquanto o Morro da Mangueira crescia e se transformava em um Complexo, a Escola aumentava seus ramos de atuação para dar aos moradores da comunidade a esperança de um futuro mais digno, em tempos de esquecimento por parte do poder público.

Na avenida foram vinte títulos, se tornando a segunda escola mais vencedora do Carnaval carioca. No morro a relação com os moradores é o troféu mais valioso da Estação Primeira de Mangueira.

Em seu último título, em 2019, a Mangueira levou para a avenida o enredo “História para ninar gente grande”. Na foto, detalhe do desfile das Campeãs. Crédito: Richard Santos / Riotur