Nas entrelinhas da notícia

Navio negreiro e comunidades

*Por Professor Hélvio Costa

A esperança é um sentimento que, apesar do cenário catastrófico no qual estamos inseridos, nos permite sonhar. Sua motivação é interna, baseada na fé ou na constatação científica, mostrando que ainda temos força para dar passos em direção a algo melhor.

Quando olho para o Brasil com um recorte para as comunidades, vejo um país de desesperança e injustiça. E, a maior de todas as injustiças é tirar do homem a esperança e dos jovens, seus sonhos. Vivemos em um cenário de justiça no qual as autoridades não se atentam para uma situação tão lamentável que assola nosso semelhante.

Que esperança há para moradores de comunidades, oprimidos pelo tráfico ou milícia, jovens seduzidos por um sistema cultural nefasto e escravizador com apologias perversas. Um sistema que entrega meninas de 10 anos a erotização precoce e seduzem meninos imberbes a portarem fuzis como se homens fossem. Convencendo-os de que existe glamour na vida do crime, quando na verdade nessa vida há uma inexorável verdade, as meninas serão mães aos 13,14,15 anos de filhos que não verão seus jovens pais pois estarão mortos, drogados ou presos.

Que esperança podemos ter em um país no qual as crianças não têm uma alternativa para além de ouvir funks com apologia ao sexo, violência e enfrentamento a ordem? Não tem a oportunidade de ouvir algo diferente para que somente depois possam fazer suas escolhas inclusive escolher a vida do crime. Não conhecem Castro Alves e seu Navio Negreiro, nem ouvem Pixinguinha queixando-se as rosas de um amor não correspondido, nunca ouviram falar de Vinícius o seu soneto da fidelidade. Oxalá tivessem acesso a Construção de Chico ou ao menos ouvir Elis cantando o Bêbado e o equilibrista.

Nunca viram nem mesmo na internet as belas obras de Monet, Tarcila, Portinari, Cavalcante não ouviram a orquestra sinfônica brasileira com suas boas vibrações. Se a música é a forma de expressar sentimentos através de sons, somos levados a perder completamente a esperança em dias melhores na comunidade pois o sentimento percebido pelos sons emitidos pelas comunidades é violência, enfrentamento e sexo.

O cenário de completa desesperança, permanece quando voltamos nossos olhares para as autoridades que poderiam dar trazer a esperança; Não existe vontade política de libertar essas pessoas, sob pretexto de inclusão, escravizam a cada dia mais consolidando currais eleitorais com votos de “cabresto”.

Vejo as comunidades de hoje com o mesmo olhar de Castro Alves ao escrever o Navio Negreiro onde os negros acorrentados são os jovens das comunidades.

“Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura… se é verdade. Tanto horror perante os céus.” Ele se referia aos maus tratos infringido aos negros eu me refiro aos jovens seduzidos pelo tráfico e abandonados pelo Estado. “Quem são estes desgraçados?”. São os filhos do deserto .. hoje míseros escravos sem ar, sem luz, sem razão… digo eu, são filhos do tráfico esquecidos pelo Estado entregues as suas paixões e sem esperança.


Professor Hélvio Costa é jurista e professor universitário

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