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Coração e Cérebro: Como o Sono Ajuda na Recuperação Após um Infarto

O cardiologista Flávio Cure escreve sobre estudos que mostram que após um ataque cardíaco, o coração envia sinais ao cérebro, aumentando a necessidade de sono.

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13 de novembro de 2024
Coração e Cérebro: Como o Sono Ajuda na Recuperação Após um Infarto
O sono tem papel crucial na recuperação após problemas cardíacos

*Por Flávio Cure

Um estudo inovador e recente realizado pelo hospital Mount Sinai, um dos centros médicos mais reconhecidos de Nova York, apontou descobertas significativas sobre o papel essencial do sono na recuperação do coração após um infarto, evento grave que requer cuidados especiais. Este estudo demonstra que o sono desempenha um papel fundamental no processo de recuperação, ajudando a reduzir a inflamação e acelerando o processo de cura do coração, de maneira mais eficaz do que se imaginava anteriormente.

Os pesquisadores publicaram esses achados na renomada revista Nature, que trouxe visibilidade ao trabalho e incentivou o meio médico a observar o sono com um olhar mais cuidadoso no contexto de eventos cardíacos. Segundo a pesquisa, após um ataque cardíaco, o coração envia sinais ao cérebro, aumentando a necessidade de sono. Essa comunicação se dá por meio de interações complexas entre o sistema imunológico e o sistema nervoso, promovendo o descanso necessário para que a recuperação ocorra de forma ótima.

Durante os experimentos, os cientistas observaram que o cérebro eleva a quantidade de sono profundo, também conhecido como sono de ondas lentas, após o infarto. Esse tipo de sono é essencial para o corpo, pois está ligado à regeneração celular e à recuperação dos tecidos. Esse aumento do sono profundo é ativado por células imunológicas chamadas monócitos, que se direcionam ao cérebro e ativam uma região chamada tálamo, utilizando uma proteína específica conhecida como TNF. Dessa forma, o corpo passa a priorizar o sono como uma resposta natural ao infarto, facilitando a recuperação cardiovascular.

O estudo incluiu modelos animais, como camundongos, e também análises com pacientes humanos que haviam sofrido infartos recentemente. Em ambos os casos, os cientistas notaram que os indivíduos que mantiveram uma boa qualidade de sono tiveram uma recuperação mais rápida e eficaz. Por outro lado, aqueles que dormiram mal ou de forma irregular apresentaram progressos mais lentos e enfrentaram um risco dobrado de novos eventos cardíacos em comparação aos que dormiram bem.

Esses resultados mostram claramente que o sono não é apenas um fator secundário, mas sim central na recuperação após um infarto. Os pacientes que conseguiram dormir adequadamente apresentaram uma melhora mais significativa na função cardíaca, enquanto aqueles com sono insuficiente mostraram progresso menor. Esse achado reforça que o sono deve ser considerado uma prioridade no processo de recuperação clínica de pacientes cardíacos.

Dado o impacto que o sono exerce na recuperação do coração, os pesquisadores recomendam que profissionais de saúde considerem o sono uma parte essencial do tratamento para pacientes que passaram por infartos. Incluir orientações sobre higiene do sono e, se necessário, apoio especializado para melhorar a qualidade do sono pode trazer benefícios significativos à recuperação e reduzir o risco de novos problemas cardíacos no futuro.

Adotar bons hábitos de sono, como dormir em horários regulares, evitar exposição a dispositivos eletrônicos antes de dormir e criar um ambiente propício para o sono, pode ser tão eficaz quanto outras intervenções. Esse enfoque preventivo, respaldado por dados científicos, pode ajudar a aliviar a pressão sobre o sistema de saúde, já que pacientes com boa qualidade de sono tendem a ter menos complicações e menores taxas de readmissão hospitalar.

A pesquisa conduzida no Mount Sinai é pioneira e abre caminho para futuras investigações sobre a relação entre sono e saúde cardíaca. Esses resultados trazem uma nova perspectiva sobre a recuperação de eventos cardíacos e demonstram que estratégias simples, como melhorar o sono dos pacientes, podem fazer uma diferença significativa nos resultados a longo prazo. Essa abordagem, além de ser economicamente viável, é acessível e pode impactar profundamente a qualidade de vida dos pacientes.

Em conclusão, o estudo mostra que o sono é um fator essencial na recuperação de infartos. Profissionais de saúde, familiares e os próprios pacientes devem valorizar a qualidade do sono e buscar maneiras de otimizar esse aspecto vital. O sono reparador pode ser o diferencial para uma recuperação bem-sucedida e contribuir para a saúde cardíaca duradoura.


Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.

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