O Dia das Crianças, celebrado no dia 12 de outubro, é tradicionalmente marcado por momentos de alegria e diversão em família. A data é uma oportunidade para pais e responsáveis se conectarem com as crianças, dedicando atenção especial e aproveitando o momento de proximidade. No entanto, além das comemorações, a ocasião pode também ser um convite para a reflexão sobre as práticas educativas adotadas na criação dos pequenos.
Para a educadora parental e referência em educação positiva, Priscilla Montes, é crucial que os pais usem essa data para repensar a forma como educam seus filhos, focando em uma abordagem mais acolhedora e menos punitiva. “Todos nós já fomos crianças, e sabemos que a infância não é apenas feita de momentos felizes. Frustrações e traumas também fazem parte do processo, mas isso pode ser suavizado se os pais abraçarem os princípios da educação positiva, rompendo com padrões arcaicos, que muitas das vezes castigam, decidem por punir”, argumenta Priscilla.
De acordo com a especialista, a educação positiva tem como pilar central a escuta ativa e a validação dos sentimentos das crianças. Ela enfatiza que permitir que as crianças tenham voz e sejam ouvidas em seus sentimentos não compromete a autoridade dos pais. Pelo contrário, essa abordagem permite o desenvolvimento de uma relação baseada no respeito mútuo, o que contribui diretamente para o crescimento emocional dos pequenos.
“A educação positiva traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento cognitivo. Crianças criadas nesse ambiente tendem a se tornar adultos mais seguros, com menos traumas e mais independência”, destaca Priscilla. Segundo ela, a ideia de que acolher é o mesmo que permitir tudo é um equívoco. “Educar com acolhimento não é deixar tudo permitido. Pelo contrário, trata-se de estabelecer limites com base no diálogo, deixando para trás a hierarquia rígida da educação tradicional”, esclarece.
Priscilla ressalta que a implementação de novas práticas educativas exige tempo e paciência. O desafio, segundo ela, está em romper com ciclos de traumas herdados de gerações anteriores. “Estamos quebrando um ciclo de traumas transgeracionais. A educação positiva é um caminho para reduzir esses danos e criar um ambiente familiar mais saudável”, afirma.
Para a educadora, o foco deve estar em construir um ambiente familiar acolhedor, onde as crianças se sintam ouvidas e valorizadas, mas também compreendam e respeitem os limites e a autoridade dos adultos. “Educar na calma, não no caos”, resume Priscilla, reforçando a importância de uma educação baseada no amor, na escuta e no diálogo.
O Dia das Crianças, além de um momento de celebração, pode ser uma oportunidade para refletir sobre as práticas parentais e como elas impactam no desenvolvimento dos pequenos. Afinal, como destaca Priscilla Montes, “educar é um ato de amor, e com diálogo e acolhimento, é possível criar filhos seguros e felizes”.
O depoimento real e especial de uma mãe
Carla Reis, de 46 anos, compartilha sua experiência como mãe de Rafael, de sete anos, e Isabella, de dois anos. Trabalhando no setor de aviação civil, Carla enfrenta os desafios de criar seus filhos com base no respeito, no diálogo e na autonomia, evitando imposições e punições. Vamos conhecer mais sobre sua jornada.
Ela relata que em todo momento tenta incluir os diálogos, principalmente em momentos de calma. “Eu tento muito não focar na hora da raiva ou na hora do episódio. Se acontecer alguma coisa que eu preciso ali colocar um diálogo sobre aquilo que aconteceu, eu prefiro evitar”, relata Carla.
Sobre a educação positiva, focada no acolhimento, Carla conta que acredita que a prática ajuda a fortalecer o vínculo entre pais e filhos. “Eu acredito sim que fortalece o vínculo, a conexão com os pais. Os filhos ficam mais seguros, ficam mais autônomos, eles se sentem mais seguros, com certeza. Aqui, por exemplo, temos a questão da escolha da roupa. Eu coloco duas opções de roupa e eles podem escolher entre as duas. Também funciona com as brincadeiras entre eles. Eu costumo colocar os dois para resolver, do jeitinho deles. Eu proponho como pode ser essa escolha. Dentro de várias outras coisas, eu sempre deixo eles demonstrarem o que eles querem, escuto e acolho se for possível. E se não for possível, eu tento conversar.”, explica a mãe do Rafael e da Isabella.
Carla conta que o seu maior desafio é manter a calma, especialmente nos dias em que não está emocionalmente bem. “Às vezes, seria mais fácil dizer um ‘não’ sem explicações, mas a longo prazo, isso não funciona”, explica. Manter uma educação baseada no diálogo exige consistência e paciência diárias, e Carla sabe o quanto isso pode ser exaustivo. Mesmo nos dias em que não está disposta a conversar, ela acredita que essa abordagem é a melhor forma de obter resultados duradouros na criação dos filhos.
A autonomia de seus filhos, algo que vê refletido no dia a dia também é muito valorizada por Carla Reis. Rafael, já com mais idade, ajuda a irmã em tarefas simples, como se vestir ou pegar algo na geladeira. Isabella, mesmo com apenas dois anos, já demonstra uma independência notável. Ela termina suas atividades e sabe o que fazer, seja jogando algo no lixo ou organizando os brinquedos. “O exemplo é essencial”, afirma Carla. Ela acredita que os pais não podem exigir dos filhos comportamentos que eles mesmos não conseguem ter. Para ela, o estudo é fundamental na criação dos filhos: “Nós pesquisamos para fazer uma viagem ou comprar um imóvel. Por que não estudar para educar os nossos filhos, que são a coisa mais importante na nossa vida?”, ressalta.
Nos momentos de frustração das crianças, especialmente em datas comemorativas como o Dia das Crianças, Carla recorre ao diálogo e aos combinados prévios. Antes de sair para comprar presentes, por exemplo, ela conversa com Rafael e Isabella sobre o que será comprado e até onde podem gastar. Isso evita possíveis crises e ajuda as crianças a lidarem melhor com suas expectativas. “É importante nunca comparar nossas frustrações com as deles”, ressalta Carla, lembrando que muitas vezes os pais projetam suas insatisfações de infância nos filhos, o que não é justo. Ela também defende que a preparação emocional deve começar dias antes do evento, para que as crianças possam entender e processar as informações com calma.
Para Carla, a chave para uma educação eficaz é nunca esquecer que as crianças são seres em desenvolvimento, que precisam de apoio, paciência e, acima de tudo, exemplos consistentes. “Eles precisam da gente controlados, emocionalmente inteligentes. Só assim conseguimos aplicar na nossa maternidade o que desejamos ver neles”, conclui.
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