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OUTUBRO

João do Rio será autor homenageado na 22ª edição da Flip

O escritor conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos. João do Rio será destaque no evento, que acontecerá em outubro.

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22 de julho de 2024
Julio Cesar
João do Rio será autor homenageado na 22ª edição da Flip
João do Rio foi autor e jornalista. (Foto: Biblioteca Nacional)

Cronista, autor de romances, ensaios, contos, peças de teatro, conferências sobre dança, moda, costumes e política. Um dos autores mais importantes do início do século XX no Rio de Janeiro, João do Rio, pseudônimo mais famoso de Paulo Barreto (1881-1921), será o autor homenageado da 22ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, na região da Costa Verde, no Sul Fluminense. O evento acontecerá entre 9 e 13 de outubro.

Ele trabalhou a vida toda em jornais e revistas. Pioneiro como repórter, criou um estilo de texto híbrido de literatura e reportagem, ficção e realidade. “João do Rio não separou jornalismo de literatura. Sua busca por transformar o ofício em grande arte é um convite a pensarmos no fazer literário em seu campo expandido”, observou o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz.

Dessa forma que ele mudou o modo de fazer jornalismo, fundando a crônica moderna. “Muito se diz que a crônica, como ela se deu no Brasil, é um gênero totalmente brasileiro. Vem um pouco da tradição do ensaio, claro, mas aqui ganhou pitadas de humor e de observação sagaz. João do Rio, como um dos pioneiros, foi além. Registrou a história de uma cidade que se transformava. Não é exagero dizer que ele fez uma etnografia no início do século”, conta a curadora da Flip, Ana Lima.

João do Rio documentou o dia a dia da capital fluminense

Na sua observação das ruas e do povo, João do Rio fez coro com pensadores da passagem do século XIX ao XX que tinham a cidade como centro do pensamento. Ele refletiu sobre o progresso, a velocidade, a formação urbana e as suas contradições.

“Ele desempenhou um papel crucial ao documentar a vida urbana do Rio de Janeiro com uma perspectiva única e detalhada num momento em que a então capital federal se expandia de maneira desgovernada. Ainda hoje, o crescimento predatório faz parte da realidade de diversas cidades brasileiras, como Paraty. É com essa sensibilidade etnográfica, presente na literatura de João do Rio, que convidamos moradores e visitantes a estar no território que abriga a festa”, argumenta Munhoz.

João do Rio: personagem múltiplo

O escritor conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos. Ele era um personagem múltiplo e controverso. “João do Rio era e continua sendo uma figura contraditória. Por um lado, era fascinado por Paris. Por outro, subia os morros do Rio de Janeiro com muito gosto, da mesma forma que o Rio era uma cidade dividida entre a fome de progresso e o convívio com sua formação”, salienta Ana Lima.

“Mas, ainda que tenha morrido famoso – seu enterro arrastou multidões –, permaneceu quase esquecido por mais de um século. A homenagem da Flip quer destacar essas contradições, justamente por ajudarem a explicar o Brasil”, completa.

João do Rio escreveu 25 livros

O autor percorreu o mundo, colecionou admiradores e desafetos. Filho de pai branco e mãe negra, abraçou as polêmicas com coragem. Desde mergulhar nas religiões de matriz africana, tão populares no Rio de Janeiro, ele também foi o responsável pela tradução e divulgação da obra de Oscar Wilde. Isso provocou especulações sobre sua sexualidade.

João do Rio se vestia como um dândi, arrumando brigas, despertando gargalhadas, mas nunca passando despercebido, dizem os organizadores. Vítima de um ataque cardíaco que o impediu de completar 40 anos, deixou 25 livros e mais de 2,5 mil textos publicados em jornais e revistas.


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