Para marcar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no último dia 9 de agosto, cerca de 150 estudantes de escolas públicas de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, deixaram as salas de aula. Eles percorreram aproximadamente 50 quilômetros até o campus Praia Vermelha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na capital fluminense.
Os alunos dos Centros Integrados de Educação Pública (Ciep) São Vicente de Paula e Y Juca Pirama tiveram uma tarde de encontro com cineastas indígenas fundadores do coletivo Mídia Indígena. A iniciativa produz e divulga conteúdo de interesse voltado à preservação e valorização de povos originários.
Além de conversas, eles assistiram ao filme Somos Guardiões. A produção é do próprio coletivo e mostra a luta para defender o território e a Amazônia.
O documentário também tem produção do ator Leonardo DiCaprio. Ele investiga interesses econômicos que incentivam o desmatamento na Amazônia e as consequências ambientais e humanas. A produção acompanha o líder e ativista indígena Puyr Tembé e o guardião florestal Marçal Guajajara na luta para proteger territórios indígenas.
Visitas em universidades para divulgar protagonismo dos indígenas
A iniciativa que uniu os estudantes e os produtores indígenas é uma parceria entre o projeto de extensão Metaversidade da UFRJ e o Consulado da Suécia no Rio de Janeiro.
Um dos fundadores do Mídia Indígena é o jornalista Erisvan Guajajara, do território Arariboia, da Aldeia Lagoa Quieta, no Maranhão, cerca de 600 quilômetros a sudoeste da capital, São Luís. O primo dele, Edivan Guajajara, é um dos diretores do filme.
O jornalista explicou à Agência Brasil que o coletivo visita universidades e escolas para expor o protagonismo dos povos indígenas em defesa de territórios. “A gente usa essa ferramenta para contar a nossa história como realmente deve ser contada e mostrar a versão dos povos indígenas com o olhar indígena”, disse.
Derrubando preconceitos sobre indígenas
Erisvan acrescenta que a comunicação é uma ferramenta de luta e pode ajudar a derrubar preconceitos. Para ele, entre as ideias preconcebidas equivocadas é a de que “indígena é preguiçoso, não trabalha e só vive no mato”.
“A gente traz esse debate para as universidades para que os alunos cresçam e aprendam que hoje nós temos indígenas jornalistas, advogados, prefeitos, vereadores, ministra e deputados federais”, listou.
À frente do Ministério dos Povos Indígenas desde janeiro de 2023, Sônia Guajajara é a primeira indígena na história do Brasil a comandar um ministério.
Participantes destacam iniciativa sobre indígenas
Juan Santos, de 17 anos, do 1º ano do ensino médio, admite que não conhecia muito sobre povos indígenas. Segundo ele, a atividade é importante para “conhecer realidades e entender a importância de preservar as tradições”.
A diretora do Ciep São Vicente de Paula, Natália Menezes, considera que o contato dos estudantes com a mídia produzida por indígenas pode ser trabalhado com um duplo viés. De um lado, a educação ambiental: “visão da natureza não só como recurso, mas como algo a ser preservado”. O outro é levar para eles a realidade dos povos indígenas.
“A gente fica muito preso ao que é dito só nas mídias, e eles não escutam esse lado dos indígenas. Então é dar voz de fala a esses povos indígenas e que os estudantes possam conhecer essa realidade para também lutar a favor dela”, salienta.
Iniciativa é em parceria com Consulado da Suécia
Os dois colégios que participaram do encontro fazem parte do projeto Escolas Interculturais Brasil-Suécia, da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, que propõe intercâmbio de conhecimento entre os países.
Antes da exibição do filme produzido pelos indígenas, os alunos acompanharam uma apresentação promovida pelo Consulado-Geral da Suécia no Rio de Janeiro. Os estudantes puderam aprender sobre os Sami, povo originário da parte mais ao norte dos países nórdicos, também conhecida como Lapônia.
Atualmente o grupo étnico é formado por cerca de 20 mil pessoas na Suécia, 50 mil na Noruega, 8 mil na Finlândia e 2 mil na Rússia. Na Suécia, eles são reconhecidos oficialmente pelo governo, têm língua, bandeira e até um Parlamento para tratar de questões pertinentes ao próprio território. Eles desenvolveram técnicas para lidar com o frio, que ultrapassa -20º Celsius perto do Polo Ártico.
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