Esportes

O poema ‘A Semana foi Assim’ reflete o Vasco que celebra 127 anos

Por Marcos Vinicius Cabral

Era 17 de agosto de 1987, quando o escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade fechou os olhos para sempre. No entanto, na inquietação de quem não podia ver uma folha de papel em branco e uma caneta, vadiamente solta por aí, escreveu:

“E viva, viva o Vasco: o sofrimento/há de fugir, se o ataque lavra um tento./Time, torcida, em coro, neste instante,/Vamos gritar: Casaca! ao Almirante,/E deixemos de briga, minha gente./O pé tome a palavra: bola em frente”.

O poema que o escritor intitulou chama-se “A Semana foi Assim”, e resgata um pouco da dignidade que o cruzmaltino havia perdido no hiato de tantos anos sem títulos lutando para se manter na elite do futebol brasileiro. Aliás, lugar este em que merece sempre estar pela grandeza de fatos históricos e desportivos. Um deles, por exemplo, foi refutar de forma corajosa o pedido da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA) para retirar 12 atletas do seu time, todos negros e operários, em 1924.

O “Não”, resposta para pavimentar o difícil caminho na luta contra o racismo, permanece enraizado até hoje no futebol. Mas foi o Vasco que deu o pontapé inicial nessa bola dividida.

Quem sabe, o jeito ‘Drummondiano’, por meio de “A Semana foi Assim”, trouxesse à mente do torcedor que carrega a Cruz de Malta por onde vá, motivo suficientemente para estufar o peito e bradar a plenos pulmões que foram os torcedores vascaínos que se uniram, e com recursos próprios construíram um templo sagrado chamado São Januário. Suor, esforço e lágrimas uniram-se ao trabalho, e os três venceram a discriminação de quem não tinha um estádio e era proibido de praticar futebol.

Se Vivo fosse, Drummond, certamente, enviaria às redações de jornais e portais de notícias “A Semana foi Assim” para exaltar o GIGANTE Roberto Dinamite, o Baixinho Romário e um ‘Animal’ de nome Edmundo.

Não satisfeito, faria questão de lembrar de Barbosa, Bellini, Vavá, Ademir de Menezes, Sabará, Carlos Germano, Felipe, Pedrinho, Juninho Pernambucano, Bebeto, Geovani, Luisinho, e tantos outros craques, que ajudaram a escrever a história de um clube gigante pela própria natureza.

Basta, em meio a tantos motivos, o poema “A Semana foi Assim” pode ser resumido na goleada por 6 a 0, diante do Santos, em pleno Morumbis, com Neymar em campo, pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Alexandre Silva, neto do Dr. Agathyrno Silva

Portanto, nesta quinta-feira, 21 de agosto de 2025, o Club de Regatas Vasco da Gama celebra 127 anos de existência. Presidido pelo ex-jogador que foi fundamental no título mais importante do clube, sobretudo nos confrontos eliminatórios contra o Grêmio, Pedrinho, que foi eleito presidente do clube para o triênio 2024-2026.

Neto do doutor Agathyrno Silva Gomes (1927-2015), considerado um dos icônicos presidentes do Vasco na década de 1970, dando fim ao jejum de títulos na década anterior, e sendo o primeiro mandatário do futebol do Rio de Janeiro a conquistar o Campeonato Brasileiro de 1974, Alexandre Silva, de 45 anos, acredita que o avô foi importante no resgate de títulos depois de 11 anos na fila, na continuidade da identidade cruzmaltina na luta pela inclusão social, por zelar no crescimento do patrimônio do Vasco da Gama e ser o homem forte do clube quando surgiu o maior ídolo e maior artilheiro do país após Pelé.

“O Vasco da Gama chega aos 127 anos como um gigante que sempre lutou por inclusão e democracia no esporte tendo o futebol como carro-chefe. Clube de tantas vitórias, títulos e glórias no passado, vivendo hoje o desafio de se reencontrar em campo e na gestão. A torcida, como sempre, segue firme e fiel carregando esse imenso amor. Parabéns ao Club de Regatas Vasco da Gama por ser a história”, contou o empresário que mora em Windermere, na Flórida, nos Estados Unidos.

Celebrações à parte, para o benemérito, ex-vice-presidente do Conselho Deliberativo e ex-candidato à presidência do clube, Sérgio Frias, 56 anos, o Vasco vive uma disfunção financeira resultado de recuperação judicial desnecessária.

O benemérito do Vasco, Sérgio Frias

“A atual situação do Vasco é de grande instabilidade, em função de o clube ter se metido numa concordata (recuperação judicial), sem necessidade. Além disso, o custo operacional mensal é muito alto, considerando que não paga credores jogados nessa recuperação judicial. Para ter uma ideia, no mês de abril, o valor do custo operacional foi de R$ 33 milhões envolvendo quase 20 clubes e mais de 35 empresários/empresas também. Isso acabou causando embaraços para negociações e uma falta de crédito, além do fato de descontrole insustentável para a gestão. O clube não tem autonomia para controlar sua dívida posta na recuperação judicial. O Vasco SAF é dependente da Administradora Judicial e, mais à frente, da Assembleia de Credores para poder fazer negociações de venda de ativos e antecipações de receitas. O coitadismo no Vasco, simbolizado no discurso que vem da direção, põe o clube fragilizado, e os fracassos são pobremente justificados, romantizados. As cobranças por títulos e performances de destaque praticamente inexistem”, explicou Frias, que também é escritor, pesquisador e palestrante.

Derrotado nas eleições para presidente do Vasco, em 2023, em mais um pleito cheio de nuances, o advogado e empresário Luiz Roberto Leven Siano, 57 anos, crê em bons presságios após uma vitória acachapante contra o Santos. A derrota para o Juventude não tira a certeza que coisas boas vão acontecer.

O advogado e empresário Luiz Roberto Leven Siano

“Feliz aniversário, Vasco da Gama! Os Deuses do Futebol, em um raro gesto de generosidade, alinharam circunstâncias inesperadas e imprevisíveis para brindar cada VASCAÍNO e cada VASCAÍNA com um espetáculo inesquecível: uma exibição avassaladora diante de um rival histórico, coroada com a maior goleada da história do confronto — um retumbante 6 a 0.

E justamente quando time, treinador, torcida e direção pareciam marchar em descompasso, o improvável se ergueu como um farol no horizonte. É chegado o instante de os irmãos VASCAÍNOS se reencontrarem. Despirem-se de mágoas antigas, ressentimentos estéreis e disputas que só alimentam o veneno da discórdia. É tempo de substituir a crítica vazia pela esperança construtiva, de transformar a dor acumulada em energia para reconstrução”.

Já o advogado Leonardo Rodrigues, 41 anos, sócio-proprietário e emérito do clube, os problemas ultrapassam as questões financeiras e chegam à ruptura de valores e aos compromissos institucionais.

O advogado Leonardo Rodrigues

“O momento atual do Vasco é muito preocupante. O problema do clube está muito além de questões financeiras. Ao afastar-se dos preceitos que o nortearam desde a fundação, o clube deteriorou seus pilares e tornou-se uma caricatura de si próprio. Sem as estacas da fundação, tornou-se terreno fértil para a sofistaria que induziu o vascaíno a avalizar, de olhos fechados, o maior erro de nossa história. A venda do futebol, às cegas, para alienígenas, sem qualquer compromisso para além de seus lucros, nunca foi e nunca será o caminho da reconstrução. A responsabilidade financeira não é inimiga do compromisso desportivo-institucional do clube e não serve a desvios de finalidade”, advertiu.

Para Marcelo de Sá Borges, administrador de empresas por formação e sócio proprietário do Vasco, o clube está no caminho certo na reestruturação que está sendo feita pela atual diretoria.

“O Vasco está no caminho de reestruturação e mesmo que tenhamos que passar pelo mesmo processo do nosso maior rival, acho que devemos pagar o preço. A parte administrativa está correta e é muito semelhante ao que nós já tínhamos de projeto na nossa candidatura à presidência do clube. Uma das coisas mais positivas dessa diretoria foi manter a SAF e o diferencial é exatamente manter o futebol sendo cuidado pelo Vasco. Fiquei feliz com a decisão do nosso presidente Pedrinho que entrou com uma liminar e recolocou o futebol no lugar dele, ou seja, quem cuida do futebol do Vasco é o próprio Vasco. Por isso, torço para que o Vasco chegue aos 150, 180, 200 anos, sendo maior que os torcedores, os dirigentes, os jogadores e os ídolos do passado. Parabéns, meu Vascão, muitos anos de vida e que tenhamos pacificação na política do clube”, contou.

O administrador Marcelo de Sá Borges

Veloz nas palavras como era no ataque do Vasco com Roberto e Romário, Mauricinho faz questão de expressar o carinho pelo clube que o revelou para o futebol.

“Parabéns, Gigante da Colina, pelos 127 anos. Tive a felicidade de jogar 10 anos neste clube em três passagens marcantes. Foi aqui, sendo atleta profissional, que totalizei mais de 350 jogos, fiz 70 gols e conquistei inúmeros títulos. Um desses, o da Libertadores da América de 1998, que considero o muito importante da história cruzmaltina. Depois de 20 anos de carreira, alguns lugares tenho saudades é um desses lugares é São Januário”, finalizou o ex-ponta que foi presidente do Votoraty Futebol Clube, time que lançou Fernando Diniz como técnico de futebol.


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