Opinião

A FLIP e seu arquétipo de literatura

*Por Leonardo Bruno da Silva 

Eu fui à FLIP, mas não como autor convidado, mesmo que meu livro estivesse sendo vendido lá. Fui porque é o encontro da literatura, ou como diz o slogan da feira: “É o encontro da literatura com a cidade”. Mas que cidade? E que literatura?  

A FLIP deste ano homenageou a escritora modernista Pagu ou Patrícia Galvão, uma mulher à frente do seu tempo, que, como afirmaram várias vezes nas mesas, fazia o que não se esperava dela. E a feira honrou Pagu. As escritoras eram maioria nos diálogos, e suas falas foram libertárias. 

Como podem supor, não tenho lugar de fala, mas me senti contemplado com as falas daquelas diversas mulheres que consegui assistir. E aí vai o primeiro problema: são muitas atividades acontecendo ao mesmo tempo, e é difícil acompanhar tudo. Por isso, acabamos escolhendo ouvir quem falará o que queremos ouvir. Não saímos da bolha. 

Fiz um exercício contrário, fui ouvir o que se opunha aos meus anseios. Fui ouvir o Armínio Fraga. Queria dialogar com suas interpretações, mas a mesa foi decepcionante. Não por causa do Armínio, mas seu debatedor parece ter ficado intimidado pela figura ao seu lado e não explorou a potencialidade daquela conversa. Saí dali e fui assistir uma mesa com Úrsula Antunes, Kellen Dias, Leila Mendes e mediação da também escritora Juliana Matos. Foram falas fortes de mulheres que tiveram de superar o machismo mais arraigado para escrever e exercer sua nova profissão, para algumas adquirida depois dos 70 anos. 

Vi também a mesa com o encantador Ronaldo Fraga. O multiartista foi cativante com suas histórias, que estão no livro biográfico “Ronaldo Fraga – um estilista coração de galinha”. Outra mesa muito boa aconteceu na quinta-feira com Socorro Acioli, Felipe Charbel e Leda Cartum: foi uma construção coletiva de um diálogo agradável sobre literatura e vidas. 

Mas está na hora de responder às provocações que fiz lá no início. Que cidade? Andando por Paraty, pude perceber que a cidade só se importa com a feira pelo seu potencial turístico. Sua pouca representação como espaço literário ficou reduzida a um pequeno palco do outro lado do canal, aonde a maioria não vai.

Que literatura? Apesar da representação feminina, outras representações literárias ficaram alijadas. Conceição Evaristo foi um sucesso nas atividades paralelas, mas passou longe das mesas principais, e os indígenas só estiveram na feira com seu canto triste em busca de esmolas dos “turistas”, mesmo que agora tenhamos um representante dos povos originários na ABL. 


Leonardo Bruno da Silva é professor de História da rede pública de ensino há 20 anos. Doutor e mestre em História Política, também é escritor e publicou o livro “O coronel que queria matar o presidente

Posts Recentes

O delegado atrás das grades

Por Nelson Lopes Caiu como uma bomba no PL de Jair Bolsonaro o pedido de…

11 horas atrás

Flup 2025 recebe programação especial do Sesc RJ

O Sesc RJ será parceiro da Flup 2025, a Festa Literária das Periferias, que acontece…

11 horas atrás

Seminário Empresarial de Turismo movimenta Maricá

A Prefeitura de Maricá, por meio da Secretaria de Turismo, Comércio, Indústria e Mercado Interno,…

12 horas atrás

Meriti apresenta ações ambientais durante participação na COP 30

A Prefeitura de São João de Meriti, por meio da Secretaria Municipal de Ambiente, Mudanças…

13 horas atrás

Fórum dos Hotéis Cinco Estrelas debate estratégias para o setor

Os gerentes dos hotéis cinco estrelas da Cidade do Rio de Janeiro participaram, na última…

14 horas atrás

PT vai apostar em influencers para ganhar eleição

O PT está atrás de influenciadores digitais para as eleições do ano que vem. O…

2 dias atrás