Por Marcos Vinicius Cabral (Texto e fotos)
Quem chega à Prefeitura, na Cidade Nova, nem imagina que pode ter falado o andar que quer ir e pedido algo para beber aos servidores públicos mais antigos do Rio de Janeiro: o ascensorista Elias Correa de Andrade, 65 anos, e que há 33 vive transportando pessoas no elevador, e o garçom Gyleno dos Santos, 88, que equilibra uma bandeja na qual serve água, café, chá e refeições aos chefes do executivo, secretários e visitas ilustres há 43.
Enquanto Gyleno foi garçom dos prefeitos Jamil Haddad (1983), Marcello Alencar (1983 a 1985), Saturnino Braga (1986 a 1988), Marcello Alencar (1989 a 1992), Cesar Maia (1993 a 1996), Luiz Paulo Conde (1997 a 2000), Cesar Maia (2001 a 2008), Eduardo Paes (2009 a 2016), Marcelo Crivella (2017 a 2020) e Eduardo Paes (2020 a 2028), Elias, conhecido como Taffarel, se tornou funcionário da Prefeitura do Rio de Janeiro ao passar em um concurso público na gestão do ex-prefeito Marcelo Allencar, em 1983.
Longevidade à parte, cada um tem uma peculiaridade para explicar como começou a trabalhar na profissão garantindo o sustento de casa.
“Era vigilante e fazia o plantão de 24 horas. À noite, como não tinha ninguém no prédio, vivia fazendo a ronda e era necessário usar os elevadores. Nessas de subir e descer, acabei aprendendo a manusear o elevador, me interessei, e fiz o curso de ascensorista em 1992. Foi assim que começou a minha história de ascensorista”, explicou.
Gyleno, por sua vez, conta que passou a ser garçom por acaso, quando trabalhava em um buffet e recebeu o convite do amigo Gladstone, que trabalhava no RH da Prefeitura do Rio.
“Eu trabalhava em um buffet e vivia servindo o gabinete do prefeito Júlio de Moraes Coutinho. Em 1982, o Gladstone era funcionário do RH da Prefeitura e trabalhava no buffet do sogro dele. Ao ver a minha habilidade com a bandeja, me perguntou se eu gostaria de ser garçom com carteira assinada e aí comecei, e não parei mais”, contou.

Há cinco anos no abono de permanência – benefício concedido aos servidores públicos no Brasil – Elias acha que ter começado a trabalhar desde jovem foi fundamental para se manter na ativa.
“Acostumei-me a trabalhar ainda na infância. Quando eu tinha 12 anos, gostava de ajudar minha mãe que era costureira da Marinha do Brasil. Aprendi o ofício da costura, e em poucos meses, passei a costurar também. Desde pequeno fui cuidadoso e disciplinado. Fiz Senai e fui parar na Thomas de la Rue, empresa inglesa de segurança que existia no Caju, onde era responsável por numerar os cheques para o Brasil inteiro. Desde cedo, encarei os desafios da vida e nunca fugi deles”.
Já Gyleno, que está aposentado desde 2007, diz que Cesar Maia, a quem considera um amigo e um dos responsáveis por ele estar até hoje trabalhando, agradece ao atual vereador do Rio por ter levantado a sua autoestima.
“Aposentei em 2007 na gestão do César Maia, e até hoje, lembro da conversa que tivemos que mudou a minha vida: ‘Gyleno, o que você vai fazer em casa? Ora, fica aqui comigo’. O Eduardo Paes falou a mesma coisa quando disse que estava aposentado. São bons políticos e grandes seres humanos. É muito gratificante saber que, mesmo aos 88 anos, ainda posso ser útil de alguma forma. Amo o que faço, e sei que o ofício de servir pessoas vem de Deus, pois Ele me escolheu para sê-lo. Embora digam que a gente nunca está realizado, confesso que é uma satisfação estar a serviço da Prefeitura do Rio de Janeiro por tanto tempo”, agradeceu.
Mas não pensem que nesse tempo todo trabalhando, a dupla não tem histórias curiosas e engraçadas para contar. Elias, por exemplo, relembra das duas vezes que deu um problema no elevador com ele acompanhado de uma mulher.

“Logo no meu início como ascensorista, dentro de um elevador Atlas Mark 4, a fita seletora, composta de aço, toda furada e que é importante na funcionalidade do elevador, certa vez, partiu. Foi um Deus nos acuda, já que ficamos eu e uma copeira, que estava visivelmente nervosa, presos no elevador. Essa senhora me meu uma gravata (aperto no pescoço com o braço) e foram momentos tensos. Aos poucos, fui conseguindo acalmá-la. A segunda vez foi mais recente e mais tranquila apesar de ter ficado preso por 30 minutos após um blecaute com uma outra colega daqui da Prefeitura. Mas foram apenas esses dois incidentes nesse tempo todo”, frisou.
Gyleno lembra da vez em que Gilberto, recém promovido a garçom e que aprendeu a manusear a bandeja com ele, foi servir café a um ex-prefeito e terminou passando por uma ‘saia justa’.
“Havia um rapaz chamado Gilberto que estava aprendendo comigo a ser garçom. Eu dava dicas, explicava as coisas para ele que inclusive estava indo bem. Numa dessas, entrou com uma bandeja grande para servir o prefeito Marcello Alencar que participava de uma reunião importante com os secretários. Naquela época, servíamos ainda em copo descartável, e quando se aproximou do prefeito, que gesticulava bastante, foi baixar para colocar o café e tomou um safanão involuntário que derrubou o copo cheio de açúcar. O falecido prefeito se levantou e com o terno cheio de açúcar me olhou nos olhos e disse: ‘É Gyleno, hoje não é o meu dia’. Depois, tirou o terno e começou a sacudi-lo. O Gilberto ficou vermelho igual a um tomate”, lembrou às gargalhadas, o garçom que recebeu a Medalha Pedro Ernesto, principal comenda da Câmara do Rio, em 1999, e o título de cidadão benemérito, em 2005.
Para quem não sabe, Gyleno é também professor de dança de salão. Por sua iniciativa e com apoio da Prefeitura, foi criado um grupo chamado Nó da Dança que promove aulas às terças e quintas-feiras para os funcionários, após o expediente, no Clube dos Servidores, ao lado do Centro Administrativo, na Cidade Nova.
Para se tornar um ascensorista e um garçom exemplar, Elias e Gyleno, respectivamente, rezam a mesma cartilha: “O segredo é ver, ouvir e calar”, aconselham.
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