Presidente Elias Duba fala sobre desafios, conquistas e o futuro do clube. (Foto: Divulgação/MEC)
Por Marcos Vinicius Cabral
A grandeza de um clube de futebol não se resume apenas aos títulos, aos números de torcedores e a camisa que impõe respeito nos adversários. Vai além. Podemos dizer que, um clube de futebol é, de fato, grande, quando ele tem história. E isso não falta ao Madureira Esporte Clube que nesta sexta-feira (8), celebra 111 anos de fundação.
Criado pelos comerciantes do bairro que tiveram a ideia de unir os times do Fidalgo Football Club e do Magno Football Club, o Madureira Athletico Clube — mudou o nome em definitivo para Madureira Esporte Clube em maio de 1933 — é até hoje a agremiação esportiva que detém o recorde de permanência no exterior. O fato ocorreu no ano de 1961, quando o Madureira realizou 36 partidas nos 144 dias que esteve pela Ásia, Europa e Estados Unidos.
Não bastasse o feito histórico, a equipe de Conselheiro Galvão fez uma viagem a Cuba, país onde realizou cinco partidas. Venceu todas. Em uma delas, teve a presença ilustre de Che Guevara (1928-1967), à época, ministro da Indústria, na vitória por 3 a 2, contra a Seleção de Havana, naquele 18 de maio de 1963.
Dos 111 anos revelando talentos para o futebol, como Evaristo de Macedo, Jair Rosa Pinto, Didi, Marcelinho Carioca, Léo Lima, Muriqui e Lorran, atualmente no Flamengo, o nome Madureira serviu de inspiração para nomes importantes da música como Arlindo Cruz que, em parceria com Sombrinha, compôs Meu Lugar para enaltecer o bairro. No entanto, o Tricolor Suburbano vai enfrentando uma série de dificuldades para se manter na elite do futebol carioca e ascender para conquistas maiores no futuro como no passado.
Um exemplo foi há dez anos, quando o Madureira conseguiu a vaga para as semifinais do Campeonato Carioca, terminando a competição em quinto lugar e conquistando o título da Taça Rio. No Brasileiro, acabou rebaixado para a Série D, após cinco anos na Série C.
O CONEXÃO FLUMINENSE conversou com o seu presidente Elias Duba, de 75 anos, que está à frente do Madura desde 1992. Nesta conversa, o dirigente madureirense falou um pouco de tudo e parabenizou os torcedores pelo aniversário do clube.
CONEXÃO FLUMINENSE — Há motivos para comemorar 111 anos do Madureira Esporte Clube?
Elias Duba — Muitos motivos. Na verdade, o Madureira celebra mais de um século de existência de um clube dos mais tradicionais do Rio de Janeiro. Sempre há motivos para comemorar uma data tão especial como esta. E qualquer aniversário do nosso Tricolor Suburbano deve ser muito comemorado, muito mesmo! Uma instituição séria que dá orgulho não apenas ao bairro como a nossa cidade.
CONEXÃO FLUMINENSE — O senhor está com 75 anos e está como presidente do clube desde 1992. Não acha que a sua missão no clube já foi cumprida?
Elias Duba — Claro que sim! Há muito tempo. Na verdade, em 1991, fui eleito para ficar um, no máximo dois mandatos apenas, e acabei tomando gosto pela coisa. Mas fomos enfrentando uma série de problemas para organizar o clube, como por exemplo, a parte jurídica com relação às dívidas. Quando assumi o Madureira, não encontrei nem um par de meião no futebol e o clube estava em completo abandono. O elenco naquele ano, contava com um único jogador contratado. Não tínhamos material esportivo e as dívidas eram imensas. A gente foi contornando tudo isso, ajeitamos as finanças, e valeu muito a pena. Logo em seguida, com um trabalho sério de profissionais comprometidos, o Madureira começou a prosperar. Isso nos encheu de orgulho e nos deu a oportunidade de continuar no comando da instituição. Na eleição seguinte, no caso, a que culminou na minha reeleição, eu resolvi continuar porque havia muitas coisas a serem feitas no clube. Coincidiu também de eu ir ficando e não surgir alguém que quisesse se candidatar ao cargo e fui ficando, fui ficando e cá estou. Há 33 anos estou à frente da presidência e sei que há muito por fazer, principalmente do futebol. Portanto, não sei por quanto mais tempo ficarei aqui, mas te garanto que enquanto tiver saúde e a minha família concordar eu continuarei presidente do Madureira até que apareça alguém com disposição, com coração, e com vontade de fazer da mesma forma que eu assumi lá em 1992.
CONEXÃO FLUMINENSE — Como o Madureira consegue sobreviver?
Elias Duba — O Madureira é um clube que não depende de A, B ou C. Ele precisa sim, de patrocínios, de investimentos, de investidores, mas o clube vive às custas dele próprio, dá um passo de acordo com a receita que tem e dos imóveis que possui. Somos um clube diferente dos outros, ou seja, com muito menos problemas e financeiramente igual aos demais.
CONEXÃO FLUMINENSE — O Madureira já foi procurado para virar SAF? Qual a sua opinião a respeito?
Elias Duba — Sim. Mas não nos interessou nos moldes que nos foi proposto. Sou muito a favor do dirigente de coração, sabe? Ainda temos bons dirigentes que agem com o coração, mas a maioria quer ser presidente de um clube para se aproveitar, para fazer negócios, para ganhar dinheiro. Não tenho nada contra as SAFs, acho até que os clubes, principalmente os de menor investimento, em curto espaço de tempo vão virar SAF para poder competir no mercado. O Madureira, pelo menos por enquanto, ainda não precisa, mas uma SAF bem feita como algumas que é de conhecimento público, será bem-vinda!
CONEXÃO FLUMINENSE — É verdade que o senhor paga o ‘bicho’ aos jogadores e é chamado o “Sílvio Santos Suburbano”?
Elias Duba — Ah, isso é uma brincadeira dos jogadores que começou após as vitórias quando comecei a pagar o ‘bicho’ ainda no vestiário. É uma brincadeira deles e todas as vezes que me viam chegar já colocavam no alto-falante e cantavam que “Silvio Santos vem aí” (risos). Mas eu levo como uma brincadeira sadia, interessante e motivadora, tanto que foi por isso que fomentei esse negócio de Silvio Santos por muito tempo.
CONEXÃO FLUMINENSE — A CBF paga valores consideráveis para as séries A e B e não investe nas C e D do Brasileirão. Sei que o senhor já criticou essa política adotada pela entidade. Qual a solução para o problema?
Elias Duba — Acho que é remunerar melhor as séries C e D. A CBF paga milhões para os clubes das séries A e B e para as séries C e D, já paga alguma coisa que, convenhamos, é melhor do que não pagar nada. Todavia, na época que eu me levantei contra isso, foi porque a CBF não pagava absolutamente nada. Questionei muito essa questão, pois o Madureira disputava a série C e eu era o representante dos clubes. Lembro como se fosse hoje que, certa vez, José Maria Marín, então presidente da CBF, ao lado de Marco Polo Del Nero, disse que “pagava a arbitragem”. Ouvi aquilo e na mesma hora retruquei: “Vocês acham muto?”. Ora, você disputa uma competição difícil por meses durante o ano e isso requer um investimento. Não é apenas o pagamento do trio de arbitragem, vai muito além. Tem as passagens aéreas, as estadias de hotéis, o investimento feito para o plantel… enfim, naquela época eu me posicionei contra esse sistema desigual. Mas concordo que melhorou bastante e como presidente do Madureira entendo que a CBF tem condições de ajudar e precisa olhar mais para as séries C e D.
CONEXÃO FLUMINENSE — Como é a situação financeira do Madureira?
Elias Duba — Difícil como a de todo mundo. Difícil como a do Estado do Rio de Janeiro, como a do nosso país, como a dos clubes do porte do Madureira e até a dos maiores. Os jogadores da faixa dos clubes do Madureira hoje estão em um patamar muito elevado em uma prateleira muito mais alta do que o clube pode alcançar. E é difícil você formar um time. E para nós, que disputamos apenas o Campeonato Estadual, e não oferecer para os atletas um contrato de um ano, é muito mais difícil ainda. Sabe porquê? Por que você não consegue atrair um atleta de nível para jogar pelo Madureira com um contrato de três ou quatro meses. Então é muito difícil gerir um clube com a situação financeira que vivemos. Muito difícil!
CONEXÃO FLUMINENSE — O Madureira sempre foi um clube revelador de talentos. Podemos citar Evaristo de Macedo, Jair Rosa Pinto, Didi, Souza, Léo Lima, Allan e André Lima. Na sua opinião, tem algum jogador que vai despontar em um grande clube brasileiro?
Elias Duba — Sim. O Madureira, além de ter revelado esses grandes jogadores citados na pergunta, ainda revelou o Maicon, Marcelinho Carioca, Russo, Nair, Isaias, Nelsinho, Iranildo, Paulinho, Philippe Coutinho e muitos outros. Vamos ficar aqui falando de inúmeros jogadores que saíram do Madureira. Tivemos o Muriqui, o Derlei, que foi campeão do mundo pelo Porto, e ídolo em Portugal, e tantos e tantos nomes que saíram daqui do Madureira. Podemos citar alguns garotos sub-17 como o Pietro, que está no Atlético MG; o Cristyan, no América-MG; o Felipe Meireles, no Fortaleza; o Hugo Fróes, no Coritiba; e o Hiaguinho, no Vitória-BA. Mas não esqueçamos do Lorran, que está no Flamengo e é tido como uma joia de apenas 18 anos que a qualquer momento pode ser negociado fortalecendo os cofres do Madureira. A base do Madureira é muito boa, não à toa sempre está disputando títulos e no topo das competições em que participa.
CONEXÃO FLUMINENSE — Qual o legado que o senhor acredita que vai deixar para o próximo presidente do Madureira?
Elias Duba — É só vir ao Madureira. Quem conheceu o clube antes e olha para ele agora vê estampado ali o legado. Fora o clube que foi resgatado daqueles bailes funks horrorosos que aterrorizavam todos aqui no bairro antes de eu assumir o clube. O legado é a de uma administração transparente, de um clube melhor e mais sanado em relação às dívidas, além de moralmente para a população. O Madureira hoje é um outro clube e quem sentar nesta cadeira de presidente vai ter muito mais facilidade do que eu tive quando assumi há 33 anos.
CONEXÃO FLUMINENSE — Hoje é aniversário do Madureira. Na comemoração, caso tenha um bolo, para quem o senhor vai dar o primeiro pedaço?
Elias Duba — Daria para todos os madureirenses de coração. A quem, assim como eu, ama este clube e que tem a honra em dizer que é Madureira. O primeiro pedaço do bolo seria para todos esses torcedores.
Quer receber esta e outras notícias diretamente no seu Whatsapp? Entre no nosso canal. Clique aqui.
O Dia dos Pais chegou e preparamos uma pequena listinha para vocês aproveitarem com a…
Foi celebrada nesta quarta-feira (6) a Santa Missa Solene em comemoração aos 373 anos da…
Em um domingo ensolarado no Grajaú Country Club, o Sport Club Mackenzie venceu por 6…
A Bolsa de Gêneros Alimentícios do Estado do Rio de Janeiro (BGA RJ) realizou, na…
O secretário de estado da Casa Civil, Nicola Miccione, anunciou que o governo enviará à…
Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, se prepara para receber a Expo Agro 2025, que…