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Tirzepatida mostra superioridade frente à semaglutida em controle de peso e glicemia:

O cardiologista Flávio Cure discute os efeitos de medicamentos que são utilizados para controle de peso e glicemia.

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29 de maio de 2025
Tirzepatida mostra superioridade frente à semaglutida em controle de peso e glicemia:
Além da perda de peso média superior, a tirzepatida também se destacou nos desfechos categóricos

*Por Flávio Cure

Dados recentes indicam que a tirzepatida (Mounjaro) tem se mostrado mais eficaz que a semaglutida (Ozempic/Wegovy) tanto na redução de peso corporal quanto no controle da glicemia em adultos com sobrepeso, obesidade e diabetes tipo 2. A conclusão vem de múltiplos ensaios clínicos randomizados, meta-análises robustas e estudos observacionais do mundo real.

Em um dos estudos mais relevantes, o primeiro estudo comparativo direto entre essas duas medicações em indivíduos com obesidade sem diabetes demonstrou que a tirzepatida nas doses de 10 mg e 15 mg semanais levou a uma redução média de 20,2% do peso corporal após 72 semanas. Já a semaglutida nas doses de 1,7 mg ou 2,4 mg proporcionou redução de 13,7%. A diferença absoluta de 6,5 pontos percentuais entre os grupos (IC 95%: -8,1 a -4,9; p<0,001) demonstra um impacto significativo em favor da tirzepatida.

Além da perda de peso média superior, a tirzepatida também se destacou nos desfechos categóricos, mostrando maior proporção de pacientes que atingiram metas de perda de peso de ≥10%, ≥15%, ≥20%, ≥25% e até ≥30%. Também foi observada uma maior redução da circunferência abdominal, importante indicador de risco cardiovascular e metabólico.

No cenário do diabetes tipo 2, os dados são igualmente contundentes. Em meta-análises de ensaios clínicos randomizados, a tirzepatida nas doses de 5, 10 e 15 mg mostrou reduções mais expressivas de HbA1c e de peso corporal quando comparada com a semaglutida, mesmo em sua dose mais elevada de 2,0 mg por semana. A dose de 15 mg de tirzepatida foi capaz de reduzir a HbA1c em 1,96%, enquanto a semaglutida alcançou redução de 1,59%. Quanto à perda de peso, os pacientes perderam em média 9,57 kg com tirzepatida, em comparação a 4,97 kg com semaglutida.

Importante destacar que, apesar da eficácia superior, a tirzepatida não apresentou aumento significativo na incidência de eventos adversos graves nem em casos de hipoglicemia severa. Isso reforça sua segurança para uso clínico, mesmo em populações com comorbidades.

Estudos de mundo real têm complementado e validado esses achados. Dados observacionais apontam que pacientes tratados com tirzepatida têm maior chance de alcançar metas de perda de peso de ≥5%, ≥10% e ≥15% nos primeiros 3, 6 e 12 meses de tratamento. A diferença em favor da tirzepatida pode chegar a 6,9% a mais de perda de peso em 12 meses em comparação à semaglutida, mesmo considerando variações em adesão, estilo de vida e comorbidades.

As duas medicações compartilham perfis de eventos adversos semelhantes, com destaque para náuseas, vômitos e diarreia em graus geralmente leves a moderados, especialmente nas fases iniciais do tratamento. Revisões sistemáticas sugerem que a tolerabilidade pode ser levemente melhor com tirzepatida, principalmente nas doses mais elevadas, o que pode favorecer sua continuidade a longo prazo.

Comparações indiretas entre estudos clínicos também reforçam os benefícios da tirzepatida. Mesmo em análises que utilizam métodos de rede para integrar resultados de diferentes pesquisas, os efeitos da tirzepatida em doses de 10 e 15 mg superam os da semaglutida 2,4 mg tanto na perda de peso quanto na redução da glicemia. Esses dados são especialmente relevantes em contextos onde os estudos comparativos ainda são limitados.

Além dos benefícios clínicos, a tirzepatida começa a se destacar nas diretrizes médicas. A American Diabetes Association (ADA), em sua publicação de 2025, reconhece que a magnitude da perda de peso e do controle glicêmico com a tirzepatida é superior, recomendando seu uso preferencial em pacientes com diabetes tipo 2 e obesidade, quando disponível.

É importante considerar, contudo, fatores como custo, disponibilidade e acesso, especialmente em países onde políticas públicas de saúde determinam a escolha terapêutica. Ainda assim, a tendência é que a tirzepatida passe a ocupar papel central no manejo integrado do diabetes tipo 2 e da obesidade.

Com uma eficácia clínica superior e perfil de segurança semelhante, a tirzepatida surge como uma das opções mais promissoras na abordagem do excesso de peso e da disfunção metabólica. Seu uso pode representar um avanço terapêutico importante para milhões de pessoas em todo o mundo.

Em resumo, a tirzepatida estabelece um novo patamar no tratamento de condições metabólicas como obesidade e diabetes tipo 2. Sua superioridade em diversos desfechos clínicos, aliada à segurança demonstrada, indica que ela poderá redefinir os padrões atuais de cuidado, com benefícios tanto individuais quanto em termos de saúde pública.


Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.

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