*Por Flávio Cure
A morte cardíaca súbita (MCS) é uma das principais causas de óbito por doenças cardiovasculares. Ela ocorre quando o coração para de bater repentinamente, levando à morte em até uma hora. Estudos recentes indicam que o uso prolongado de antidepressivos pode estar associado a um aumento relevante nesse tipo de risco.
Uma análise realizada por pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, revelou que pessoas que fazem uso de antidepressivos por um período entre 1 e 5 anos têm um risco 56% maior de sofrer morte cardíaca súbita. Quando o uso ultrapassa 6 anos, esse risco mais do que dobra, mostrando uma correlação importante entre o tempo de uso e a gravidade dos efeitos.
Os dados também chamaram atenção para a faixa etária. Entre os indivíduos de 30 a 39 anos, o uso por até 5 anos já triplica o risco de morte súbita, enquanto o uso superior a 6 anos pode multiplicar esse risco por cinco. Isso mostra que jovens adultos também estão vulneráveis.
É importante lembrar que a própria depressão já aumenta o risco cardiovascular. A condição pode influenciar hábitos de vida e mecanismos biológicos ligados ao estresse e à inflamação, além de estar associada ao aumento de substâncias no organismo que afetam negativamente o coração.
Adicionalmente, alguns antidepressivos podem provocar alterações no ritmo cardíaco, como a prolongação do intervalo QT, o que pode levar a arritmias potencialmente fatais. Esse efeito é mais comum com certos tipos de antidepressivos, exigindo cuidado na escolha e no monitoramento do tratamento.
Por isso, recomenda-se que o uso de antidepressivos seja sempre acompanhado por um profissional de saúde, com revisões periódicas da dose, exames cardíacos quando necessário e reavaliações frequentes sobre a necessidade de continuar o tratamento.
Alternativas e complementos à medicação, como terapia cognitivo-comportamental, atividades físicas regulares, técnicas de respiração e mudanças no estilo de vida, podem ajudar a reduzir os sintomas depressivos e trazer benefícios ao sistema cardiovascular.
É fundamental também combater o estigma em torno da saúde mental. O uso de antidepressivos não deve ser visto com preconceito, mas como parte de um plano terapêutico que exige cuidado, atenção e acompanhamento multidisciplinar.
A conversa entre médico e paciente deve ser constante, aberta e transparente. A decisão de iniciar, manter ou ajustar o uso da medicação deve considerar o quadro clínico, os riscos associados e a qualidade de vida de quem está em tratamento.
Mesmo que os riscos existam, eles não devem ser motivo de pânico. O mais importante é garantir que o tratamento seja adequado para cada pessoa, considerando seu histórico médico, idade, estilo de vida e resposta à medicação.
A prevenção de problemas cardíacos durante o tratamento com antidepressivos passa pelo cuidado integral do paciente. Isso inclui exames periódicos, atenção a sintomas incomuns e uma abordagem integrada entre cardiologistas e psiquiatras, quando necessário.
Cada pessoa é única, e por isso, o tratamento também deve ser. Os antidepressivos continuam sendo uma ferramenta valiosa no combate à depressão, mas como qualquer outro medicamento, devem ser utilizados com consciência e responsabilidade.
Promover a saúde mental e ao mesmo tempo proteger o coração é um equilíbrio possível. Com orientação adequada, exames de rotina e estratégias de bem-estar, é possível reduzir os riscos e garantir um cuidado completo para o corpo e a mente.
Este artigo reforça a importância da individualização do tratamento e da valorização do acompanhamento médico, especialmente em terapias de longo prazo. A saúde mental e a saúde cardiovascular devem caminhar juntas em qualquer plano terapêutico.

Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.
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