*Por Flávio Cure
O tabagismo é um fator de risco para diversas doenças e complicações na gravidez, mas, ao contrário da genética ou da idade, ele pode ser evitado. Deixar de fumar reduz significativamente os riscos associados e aumenta as chances de uma gestação saudável. Além disso, conscientizar a população sobre os malefícios do fumo, tanto ativo quanto passivo, pode orientar políticas de saúde pública e educar sobre os impactos do tabaco na vida das gestantes e de seus bebês.
Um estudo liderado pelo professor associado Hirotaka Hamada, do Hospital da Universidade de Tohoku, no Japão, investigou os efeitos do tabagismo materno e da exposição ao fumo passivo no risco de descolamento prematuro da placenta. Essa condição pode ser fatal tanto para a mãe quanto para o bebê, tornando essencial a disseminação de informações sobre fatores de risco modificáveis para que gestantes possam tomar decisões mais seguras.
A pesquisa analisou dados de aproximadamente 82 mil mulheres grávidas no Japão, com foco na Fração Atribuível Populacional (PAF) dos riscos relacionados ao fumo. Os resultados indicaram que fumar durante a gravidez foi responsável por 2,8% dos casos de descolamento da placenta. Surpreendentemente, mesmo entre gestantes que não fumavam, a exposição ao fumo passivo contribuiu para 3,0% dos casos dessa complicação.
“Mesmo que a mãe não fume, o parceiro pode fumar em casa, achando que isso não causará problemas”, alerta Hamada. “Nosso estudo espera conscientizar a sociedade de que qualquer exposição à fumaça do cigarro é prejudicial para mulheres grávidas.”
Esses achados reforçam a necessidade de medidas de prevenção contra o fumo passivo, além de incentivar a cessação do tabagismo entre gestantes. O estudo destaca a importância de políticas públicas mais rigorosas e campanhas educativas que alertem sobre os riscos da exposição ao fumo, tanto em ambientes domésticos quanto em espaços públicos.
O descolamento prematuro da placenta ocorre quando a placenta se separa parcial ou completamente do útero antes do nascimento do bebê, interrompendo o fornecimento de oxigênio e nutrientes. Isso pode resultar em parto prematuro, restrição do crescimento fetal e até mesmo natimortalidade. Os sintomas incluem sangramento vaginal, dor abdominal intensa e contrações uterinas frequentes. Quando essa condição é identificada, é necessário atendimento médico imediato para evitar complicações graves.
A nicotina e outras substâncias químicas presentes no cigarro podem comprometer o fluxo sanguíneo para a placenta, afetando a nutrição do feto e aumentando as chances de descolamento. Além disso, o fumo passivo contém toxinas que também impactam a circulação placentária e prejudicam o desenvolvimento fetal. Dessa forma, gestantes devem ser protegidas contra qualquer forma de exposição ao tabaco.
As descobertas do estudo foram publicadas no periódico BMJ Open e utilizaram dados do Japan Environment and Children’s Study (JECS). Apesar de terem sido conduzidas sob responsabilidade dos pesquisadores, os resultados reforçam evidências científicas globais sobre os perigos do tabagismo na gravidez.
Para reduzir os riscos, é fundamental que governos e instituições de saúde promovam programas de cessação do tabagismo voltados para gestantes e seus familiares. O aconselhamento médico e o suporte psicológico são essenciais para ajudar as mães a abandonarem o cigarro. Além disso, medidas legislativas que proíbam o fumo em ambientes fechados podem diminuir a exposição ao fumo passivo e proteger a saúde materno-infantil.
O estudo de Hamada corrobora pesquisas anteriores que indicam que o tabagismo durante a gestação também aumenta o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e complicações respiratórias no recém-nascido. Mulheres que fumam têm maior probabilidade de desenvolver problemas como pré-eclâmpsia e restrição do crescimento fetal, o que pode impactar a saúde da criança a longo prazo.
Portanto, além da conscientização individual, é necessário um esforço coletivo para reduzir o impacto do tabaco na gestação. Campanhas educativas em unidades de saúde, escolas e espaços comunitários podem ajudar a difundir informações essenciais para que famílias façam escolhas mais saudáveis. Informar sobre os perigos do cigarro e oferecer alternativas para quem deseja parar de fumar são passos fundamentais para garantir o bem-estar das futuras gerações.

Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.
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