Opinião

O lugar do Rio de Janeiro nas efemérides de 2024

*Por Luciene Carris

De acordo com o dicionário, efeméride é um acontecimento importante que ocorreu em determinada data, ou ainda a celebração de um fato relevante. Por outro lado, do ponto de vista da astronomia, corresponde a tábua ou tabela astronômica que indica a posição dos astros em cada dia do ano. De fato, o conhecimento astronômico foi fundamental durante a era das grandes navegações, isso facilitou a vinda do navegador português Pedro Álvares Cabral para o outro lado do Oceano Atlântico, o atual território nacional.  Dito isto, vamos recordar que em 2024, celebramos algumas efemérides históricas marcantes.

Vamos começar cronologicamente pela primeira delas, a Constituição Brasileira outorgada, em 1824, pelo Imperador D. Pedro I, após a dissolução da Assembleia Constituinte que foi organizada no prédio da Cadeia Velha, no local do atual Palácio Tiradentes, na rua Primeiro de Março. De fato, é um documento importante, pois marcou o início de um novo período na história política brasileira ao estabelecer as bases legais do Império do Brasil, que perdurou até 15 de novembro de 1889 quando foi proclamada a nossa República.

Outro evento é a Guerra do Paraguai, que teve início no final de 1864 e se estendeu até o início de 1870. O conflito bélico envolveu o Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, deixou como legado mudanças significativas na geopolítica da região, sem ignorar as perdas humanas e materiais, em especial, para o Paraguai que saiu economicamente arrasado. E, assim, nas ruas do Rio de Janeiro, mas precisamente nos bairros de Humaitá, Centro, Flamengo, Leblon e Botafogo, encontramos diversas ruas, que relembram a memória dessa guerra, como as ruas Voluntários da Pátria, Riachuelo, Paissandu e Humaitá.

Já no limiar do regime republicano, em novembro de 1904, o Rio de Janeiro foi palco de uma revolta, que ficou conhecida como Revolta da Vacina, mas de fato deveria ser chamada corretamente de “revolta contra a vacina”. A imposição da vacinação obrigatória contra a varíola pelo governo do presidente Rodrigues Alves, coordenada pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, incitou diversas manifestações violentas nas ruas da cidade com direito à destruição de bondes e à construção de barricadas na região portuária.

Algumas décadas depois, em 07 de setembro de 1944, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, a Avenida Presidente Vargas foi inaugurada com um desfile militar que contou com tanques de guerra e a participação de 30 mil soldados. A abertura dessa grande via enfrentou a resistência de proprietários de diversos imóveis, além de causar insatisfação entre religiosos e a Igreja Católica devido à demolição de templos religiosos, bem como centenas de residências e lojas comerciais.

Eleito democraticamente para presidência, Getúlio Vargas retornaria ao poder em 1950. Contudo, no dia 24 de agosto de 1954, o presidente abreviou a sua vida ao cometer suicídio, disparando um tiro no peito, em seu quarto no Palácio do Catete, que hoje em dia abriga o Museu da República. O ato dramático, e de desespero, desencadeou profundas repercussões políticas e muita comoção popular nas ruas do Rio de Janeiro.

Passados dez anos, em abril de 1964, teve início a Ditadura Civil-Militar no Brasil, um regime autoritário que perdurou por 21 anos, marcando a história política e social do país por um breve período de desenvolvimento econômico e modernização em alguns setores da indústria, mas à custa de repressão e da censura. Um desses exemplos de opressão do regime foi a destruição da sede da União Nacional dos Estudantes, em 01 de abril de 1964, na Praia do Flamengo.

É inegável que tais acontecimentos contribuíram para o imaginário do protagonismo do Rio de Janeiro, que foi a sede da monarquia brasileira e, posteriormente, a capital da República até 1960, quando a capital foi transferida para Brasília. Como epicentro de muitas decisões políticas importantes, muitas dessas resoluções envolveram controvérsias e tiveram consequências imediatas, deixando um legado para a história do Brasil e do Rio de Janeiro.

Como é próprio das efemérides históricas, o ato de lembrar, comemorar e celebrar traz consigo a inevitável contrapartida do esquecimento. Então, para recordar tais eventos, a coluna “Conexão Histórica” decidiu rememorar cada um desses episódios. Acompanhe e redescubra a história do Rio de Janeiro junto conosco nas próximas publicações.


Luciene Carris é pesquisadora e historiadora formada pela UERJ. Autora do livro “Histórias do Jardim Botânico: um recanto proletário na zona sul carioca (1884-1962)” (Telha, 2021), entre outros. Instagram: @lucienecarris

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