Por Nelson Lopes
Estão postas as estratégias dos principais candidatos à prefeitura do Rio, depois do debate realizado ontem pela Band. O prefeito Eduardo Paes terá como foco de toda campanha a apresentação dos resultados do seu terceiro mandato, sem querer nacionalizar a disputa. Sem perder tempo, Paes expôs o mote daquele que deve ser o seu discurso: a “reestruturação” do Rio, depois daquela que ele considera ter sido uma “desastrosa gestão de Marcelo Crivella”. Apesar de contar com o apoio do presidente Lula, Paes evitou polarizar as discussões com Ramagem e com Rodrigo Amorim, que tiveram o prefeito como alvo. Quando muito, disse que o eleitor devia ter cuidado ao escolher o seu candidato, para evitar quadro semelhante à eleição de Crivella.
Paes deu de ombros e preferiu falar sobre a recuperação do BRT, os novos Ginásios Integrados e o Super Centro Carioca de Saúde. Exatamente como manda a cartilha da sua propaganda eleitoral já gravada. No entender da equipe, Paes está numa “posição de conforto”, sem qualquer necessidade de se exaltar ou partir para o ataque contra os adversários. Apesar de se dizer “honrado” com o apoio de Lula, Paes seguirá sem fazer disto uma muleta. O apoio que vem de Brasília é uma espécie de “cereja no bolo” da sua empreitada, dizem os aliados.
Neófito em debates, Ramagem não conseguiu esconder o nervosismo ao debater com adversários tão experientes. Mesmo assim, colocou as garras de fora e mostrou ao que veio, fez acenos ao seu eleitorado fiel. Amparado por Rodrigo Amorim, com quem atuou em uma espécie de “dobradinha”, se vinculou à gestão de Jair Bolsonaro, acenou para o seu público ao se colocar como um “homem forte” do ex-presidente, e não deixou de vincular Paes a Lula. Tudo para nacionalizar o debate e tentar ir para o segundo turno.
É nisso que a propaganda dele também trabalhará: as peças feitas pelo marqueteiro Paulo Vasconcelos, dono de um talento indiscutível no meio da política, os mostram como amigos de longa data, dignos da confiança, um do outro, que convivem como “conselheiros dos momentos mais difíceis”. No que diz respeito à zeladoria urbana, Ramagem não deixou as polêmicas de lado e voltou a criticar o BRT – justamente o modal tão enaltecido por Paes – e as filas do sistema municipal de saúde. Ah, a campanha dele voltou a contar com a presença do vereador Carlos Bolsonaro, amigo dele de outros carnavais, e que acompanha tudo de perto. A suspeição sobre os contratos assinados por Paes começou a ser lançada pelo bolsonarista…
Veterano em disputas eleitorais e com talento retórico reconhecido até mesmo pelos adversários, Tarcísio Motta jogou luz sobre o desafio de combater o bolsonarismo, representado por Ramagem, e ao mesmo tempo desvincular Paes do campo da esquerda. Apesar de Paes ter o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Tarcísio deve concentrar o voto ideológico da chamada “esquerda raiz”. Desta forma, o candidato do PSOL pôde explorar os dois campos com “uma única cajadada”: em meio às críticas ao ex-presidente, o professor pontuou os “flertes” que Paes teve com Bolsonaro, como o “duelo” que chegou a travar com Wilson Witzel, em 2018, sobre uma suposta preferência do patriarca da família mais influente da direita. O antigo vínculo com o ex-governador Sérgio Cabral também chegou a ser citado.
Ramagem foi alvejado com críticas diretas ao último governo: em nível nacional, Tarcísio citou os ataques às urnas, as críticas à vacina contra a Covid-19, e a suposta “Abin paralela”. Na questão local, as antigas vinculações da família Bolsonaro com integrantes de grupos paramilitares foram colocadas frente ao delegado da Polícia Federal.
Em comum, entre todos os candidatos, uma postura: a mania de produzir frases de efeito, com o objetivo de gerar os chamados “cortes” para as redes sociais. Tá aí uma tendência que veio para ficar…
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