*Gabriel Siqueira
Funk-se quem quiser (MC Galo e Dollores)
Pra quem não conhece o funk, é com muito prazer
que eu me apresento agora pra você.
Sou a voz do morro, o grito da favela.
Sou a liberdade, em becos e vielas.
O Dia da Favela, celebrado em 4 de novembro, é uma data que representa a resistência e a valorização das comunidades periféricas no Brasil, com um significado que ultrapassa fronteiras e atinge o coração das lutas sociais.
Com 61 anos, a Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) desempenhou um papel histórico na luta pelo respeito e reconhecimento da favela como parte da cidade, sendo a mais antiga organização de favelas do país.
Fundada em 1963, a FAFERJ nasceu com o objetivo de organizar e fortalecer a luta dos moradores das favelas do Rio de Janeiro contra as remoções forçadas, impulsionando uma mobilização que foi pioneira e inspiradora na luta pela urbanização e regularização das favelas.
Fundada em um período de repressão e marginalização das favelas, a FAFERJ surgiu com o propósito de defender os interesses de quem vive nas áreas mais vulneráveis e invisibilizadas da cidade. Em 1965, a FAFERJ foi colocada na ilegalidade, perseguida pela ditadura militar pelo que chamava de “atividade subversiva entre os favelados”.
Por meio de uma voz coletiva e de reivindicações políticas, a federação colocou em pauta a luta contra o preconceito, o direito à moradia, regularização fundiária, ao saneamento básico, e a serviços públicos de qualidade no morro e nos asfalto.
Mesmo perseguida e na ilegalidade, a FAFERJ continuou funcionando, realizando assembleias comunitárias, eleições e regularizando associações de favela democraticamente eleitas, em um peŕiodo que nem o Brasil tinha eleições diretas. A história precisa ser contada. Foi, e continua sendo, um movimento de coragem e união, lutando pelo direito de existir com dignidade em um espaço que historicamente foi negligenciado.
Recentemente, o Estado brasileiro reconheceu e anistiou coletivamente a FAFERJ. O Ministério dos Direitos Humanos, representado pelo Comissão de Anistia, aprovou a reparação coletiva à Federação da Associação das Favelas do Rio, que foi perseguida por tentar impedir que 100 mil pessoas fossem expulsas de favelas na zona sul do Rio de Janeiro por agentes do regime militar.
As violações contra essas comunidades cariocas na ditadura estão descritas no relatório da Comissão da Verdade do Rio¹. Com a ditadura, houve um aumento do monitoramento e repressão dos líderes comunitários, inclusive dirigentes presos da própria FAFERJ.
Nessa política, fruto da doutrinação da segurança nacional, estava presente entre as medidas perpetradas pelo Estado a remoção forçada da população das favelas e a violência coletiva gerada pelo policiamento ostensivo militarizado, que permanece até hoje enxugando sangue nas comunidades pobres do Rio.
A FAFERJ também inspira um sentimento de orgulho e pertencimento que vai além da resistência. A data é um chamado para valorizar a riqueza cultural, as iniciativas locais, e a força dos moradores que enfrentam desafios diários e, ainda assim, constroem redes de apoio e solidariedade.
Nossa Federação ainda se envolveu em lutas pela memória e para contar a história não contada das favelas cariocas. Defendemos nos últimos 40 anos, uma política de segurança baseada na segurança dos direitos, a regularização dos bailes funk de favela e festivais, o apoio a associações de moradores, mídia comunitária, etc.
Temos apoiado redes de catadores recicláveis, associações de mototaxistas, criamos o Só Cria – Rede de Educação Popular e, recentemente, associações Relíquias do Funk e a Escola Carioca de Mcs e Profissionais do Funk.
Celebrar o Dia da Favela é reconhecer que essas comunidades são parte essencial da cidade, trazendo diversidade, inovação e uma visão autêntica da realidade brasileira. É um momento de reafirmar a luta por direitos, de ecoar as vozes da favela e de inspirar a transformação social e o combate à desigualdade.
Assim, ao celebrar o Dia da Favela, honramos a trajetória de resistência e mobilização da FAFERJ, que ainda hoje se faz presente na luta por justiça social, memória, inclusão e respeito para todos os moradores de favelas.
*Gabriel Siqueira, Diretor da FAFERJ, Vice-presidente do Conselho Municipal de Favelas, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana.
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