Por Luciene Carris
Quem atravessa a Praça Tiradentes, anteriormente chamada de Praça da Constituição, no Centro do Rio de Janeiro, se depara com um Monumento a Dom Pedro I, a primeira estátua pública do Brasil. A ideia partiu do Senado da Câmara em 1824, depois da publicação da primeira Constituição do Brasil, mas foi suspensa com a abdicação do Imperador em 1831.
É bem verdade que a peça só foi inaugurada tardiamente, em 1862, pelo seu filho, D. Pedro II, com a celebração pública de um grande evento. Vale recordar ainda que a escolha do lugar para a sua instalação não foi aleatória, pois, bem perto dali, localizava-se a sede do governo, no Largo do Paço, atual Praça XV de Novembro.
Vale a pena realizar uma caminhada pelas ruas do Centro, pois os lugares de memória da história do país se encontram disponibilizados nas ruas do Rio de Janeiro, e pouco atenção damos em decorrência do corre-corre do nosso cotidiano.
Além disso, no imaginário sobre a Independência do Brasil, geralmente lembramos da consagrada pintura “Independência ou morte” do artista brasileiro Pedro Américo, inaugurada em 1888, que se encontra sob a guarda do Museu Paulista, e amplamente difundida nos livros didáticos e nas mídias.
O monumento equestre em homenagem ao primeiro Imperador do Brasil possui algumas particularidades. Considerada como uma das maiores peças em bronze produzida na América até então, a estátua foi idealizada pelo artista brasileiro João Mafra, mas construída em Paris pelo escultor Luiz Rochet, depois de um concurso organizado pela Academia Imperial de Belas Artes.
Ali observamos a imagem de D. Pedro I erguendo a Constituição. Na sua base encontram-se alegorias de indígenas, animais e plantas, além dos rios Amazonas, Paraná, Madeira e São Francisco, e brasões das vinte províncias que integravam o Brasil naquela época. Alguns dos principais momentos da sua vida encontram-se gravados.
Assim, observamos as datas do seu nascimento em 1798; do casamento com a princesa Dona Leopoldina em 1817; o Dia do Fico em 09 de janeiro de 1822; quando se tornou Defensor Perpétuo do Brasil em 13 de maio de 1822; a aclamação como imperador em 12 de outubro em 1822; a coroação em 01 de dezembro de 1822; a ratificação da Constituição Brasileira em 25 de março de 1824 e o casamento com princesa Dona Maria Amélia em 17 de outubro de 1829.
Um dos lugares mais agitados foi o Campo de Santana, atual Praça da República, pois se transformou em um lugar privilegiado para as comemorações oficiais promovidas pela Coroa. Tais festas oficiais dividiam espaço com outras de natureza popular como as festas juninas, a coroação do Imperador do Divino e louvores à Santana.
O espaço aberto e descampado era ideal também para realização de atividades militares. Não por acaso ali perto foi instalado um quartel, que serviu para defender D. Pedro I de um motim liderado pelo general Jorge Avilez, comandante das tropas fiéis a Lisboa dois dias depois do episódio, que ficou conhecido como o Dia do Fico.
A desobediência do decreto assinado pelo rei, que exigia o regresso de D. Pedro I causou um alvoroço na cidade naquele 09 de janeiro. Nem todos apoiaram a decisão tomada. Além dos militares, uma massa de populares pegou em armas e se espalhou pelo Campo para apoiar D. Pedro I. O resultado foi a rendição do comandante português.
Cerca de um mês depois do episódio do Ipiranga, no dia 12 de outubro, no aniversário de D. Pedro I, o Campo de Santana foi palco da celebração pública da Independência e da aclamação do Imperador, aliás, a data é considerada por muitos estudiosos como a verdadeira data de fundação do império.
No alto da sacada de um palacete, especialmente construída alguns anos antes para o seu casamento com Dona Leopoldina, o soberano acenou para milhares de presentes, que aproveitaram o dia de festa com direito à cavalhada, música, dança e gritos de “Viva”.
Depois de aclamado, em 01 de dezembro de 1822, foi sagrado e coroado imperador do Brasil na catedral da Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, localizada na esquina da rua Sete de Setembro e Primeiro de Março.
A cerimônia pomposa, que lembrava a sagração de Napoleão I ocorrida na Igreja Notre-Dame de Paris, foi eternizada na pintura do artista francês Jean-Baptiste Debret. Para comemorar a data, D. Pedro I criou a primeira insígnia brasileira, a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul, para condecorar brasileiros ou estrangeiros, que tivessem relevância na política nacional.