Hoje celebra-se o 54º Dia Mundial da Terra 2024. Para este ano o slogan é “Planeta versus Plástico”. Esse evento concentra o pedido de centenas de milhares de pessoas para consolidar uma aliança global para agir, inovar e implementar medidas para proteger o meio ambiente entre todos: empresas, governos e cidadãos. A produção global de plástico não mostra sinais de abrandar e é estimado que duplique até 2050. A sua utilização excessiva é um problema global que destrói o meio ambiente, diminui a biodiversidade, aumenta o aquecimento global e tem um enorme potencial de impacto na saúde humana.
A contaminação plástica é uma das maiores ameaças que enfrentamos hoje. Cabe a nós mudar nossas atitudes e comportamentos do nosso entorno para pôr um fim aos plásticos de uso único ou descartáveis e aumentar a conscientização sobre seus efeitos nocivos ao nosso meio ambiente.
Em território brasileiro, por sua vez, dados do último Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, pesquisa desenvolvida pela Associação de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), mostram que a geração de resíduos plásticos nas cidades brasileiras foi de 13,7 milhões de toneladas em 2022, equivalente a 64 quilos por pessoa no ano.
Além disso, segundo a Abrelpe, o resíduo plástico é o tipo de poluente mais encontrado nos corpos hídricos do planeta, correspondendo a 48,5% dos materiais que vazam para os mares. Em águas brasileiras, mais de 3 milhões de toneladas de resíduos sólidos chegam todos os anos – quantidade que cobriria mais de 7 mil campos de futebol.
E se você pensou que o problema acaba aqui, se enganou. Os chamados microplásticos são fragmentos de até cinco milímetros, e eles estão em toda parte. Por serem pedacinhos minúsculos, contaminam espaços na terra, no mar, nas reservas de água doce e até mesmo no ar.
Sabia que podemos estar respirando plástico? Pois é! Além respirá-lo, nós acabamos o ingerindo: na água, no mel e nos frutos do mar. Tanto que, por semana, o ser humano pode ingerir cerca de 5g de plástico, o equivalente a um cartão de crédito.
Existem dois tipos diferentes de microplásticos:
Primários: Liberados no ambiente como pequenas partículas, como microesferas adicionadas em cosméticos
Secundários: Resultam da degradação de pedaços maiores de plástico, como fibras de roupas sintéticas e fragmentos de sacolas e garrafas
Para melhor entendermos essa questão, o Conexão Fluminense conversou com o engenheiro agrônomo José Luiz Natal Chaves, especialista da ORGANOSOLO Biotecnologia Agroambiental. Ele destacou a relação do plástico no cenário pós-pandemia, o Tratado Global de Plásticos e a importância do Brasil na agenda ambiental mundial. Confira:
Conexão Fluminense – O plástico esteve bastante presente em nossas vidas durante a pandemia, enchendo o mundo de máscaras N95, embalagens para viagem e sacolas descartáveis. Enquanto estávamos preocupados com a crise global de saúde, acabamos agravando a crise do plástico. Uma enorme quantidade desses produtos, como EPIs e embalagens descartáveis, foi vendada como forma de prevenir a Covid-19. Como está esse cenário pós-pandemia em relação ao plástico?
José Luiz Natal Chaves – O cenário pós-pandemia, em relação ao plástico, não é nada bom e, também, não é animador. O plástico oferece uma falsa comodidade ao nosso modo de vida, da qual temos dificuldade de abrir mão. Há, também, fortes interesses econômicos calcados na produção e na utilização deste material, independente dos custos ambientais impostos e, mesmo, econômicos, normalmente transferidos à sociedade, na forma de custo de remediação ou de grandes tragédias. As ações governamentais não são efetivas ou contundentes e a sociedade não está conscientizada e, muito menos, sensibilizada.
Conexão Fluminense – O Tratado Global de Plásticos deve reduzir a produção de plástico em pelo menos 75% para garantir que a temperatura do planeta permaneça abaixo de 1,5°C e para proteger as comunidades, a saúde humana e a biodiversidade. O Greenpeace defende que o Tratado priorize uma transição energética justa para uma economia de baixo carbono, baseada na reutilização. O desincentivo à exploração de petróleo e gás, usados como matéria-prima, é crucial para que a produção desenfreada de plásticos seja interrompida. O Brasil está fazendo seu papel ?
José Luiz Natal Chaves – O Brasil tem importante papel na agenda ambiental mundial. Recuperamos um protagonismo ambiental importante, mas temos muitas frentes a serem assumidas e enfrentadas. O petróleo, do qual se origina o plástico, é o mesmo que dá origem ao adubo nitrogenado sintético, que saliniza o solo e reduz o seu teor de matéria orgânica, mas ainda muito importante para a produção de alimentos. Se o que identificamos como sendo o modelo de desenvolvimento sustentável é economia de baixo carbono, e se compreendemos que o solo é o depósito mais importante e seguro para a guarda do carbono, então é necessário adotarmos um modelo de adubação que, de forma responsável, gradativa e progressiva, substitua a adubação nitrogenada sintética por uma adubação nitrogenada orgânica baseada, também, na recuperação dos resíduos orgânicos, como nos propomos a fazer na ORGANOSOLO.
Conexão Fluminense – Pensar sobre os efeitos do plástico em si na saúde foi algo que só veio à tona no início dos anos 2000, quando cientistas começaram a ver efeitos graves do material nos oceanos. “Tem uma grande ‘sopa de plástico’ no meio ambiente”, afirma Luís Fernando Lourenço, pesquisador do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e um dos autores do estudo que encontrou microplásticos em pulmões humanos. Como isso afeta a nossa saúde?
José Luiz Natal Chaves – A nossa saúde já está sendo negativamente impactada e de forma importante, pela presença identificada de microplástico no nosso organismo, particularmente nos pulmões, como demonstra o importante estudo do qual participou o pesquisador Luís Fernando Lourenço, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP.
É importante, para a preservação da espécie humana (e não para a preservação do planeta, que ficará muito bem, quando não mais estivermos por aqui) que soluções responsáveis já existentes, para a redução do uso do petróleo e dos seus derivados, dentre eles os plásticos e os adubos sintéticos salinizadores do solo e das águas, sejam adotadas e que novas soluções sejam propostas, pesquisadas, desenvolvidas, testadas, analisadas e oportunamente adotadas.
Temos muito a fazer, mas com a valorização dos conhecimentos tradicionais, combinados com a imensa capacidade de desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologias das nossas instituições de pesquisa e universidades, sendo estas valorizadas e respeitadas, podemos acreditar na construção de um futuro mais acolhedor e sustentável.
O Dia Mundial da Terra teve início em 1970 nos Estados Unidos com um fórum ambiental que reuniu 20 milhões de pessoas pra protestar contra a poluição, e foi fundamental para a aprovação de leis ambientais pioneiras sobre emissão de gases nocivos e proteção de espécies ameaçadas. O dia 22 de abril foi adotado pela ONU em 2009 como data dedicada a promover em todo o mundo a consciência ambiental e o desenvolvimento sustentável.
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