Entrevista: Secretário Chicão Bulhões fala sobre os pilares que projetam um Rio mais forte

Após viver anos de uma gestão atrasada, o Rio de Janeiro entra em um novo trilho no qual é preciso trabalhar muito para alcançar luz que aparece no fim do túnel e fazer. Para fazer o Rio mais forte, no entanto, não basta somente arregaçar as mangas. É preciso visão no futuro e foco nos temas que norteiam as cidades mais inteligentes do mundo. Criptomoeda, energia limpa, crédito de carbono, inovação, tecnologia. Não dá para gerir uma cidade como o Rio de Janeiro sem fincar raízes nesses assuntos. E foi nesse circuito que se baseou nossa conversa com o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação, Chicão Bulhões. Confira a entrevista, na íntegra.

Conexão Fluminense – Em recente entrevista ao nosso portal, o Secretário Municipal de Planejamento e Fazenda do Rio, Pedro Paulo, ressaltou que o senhor conduz o processo de desenvolvimento do Porto Maravalley com muita habilidade. Pode nos falar como está esta questão? Além do Impa, outros parceiros estão à vista?

Chicão Bulhões – O Porto Maravalley é um polo de inovação e tecnologia, que tem por objetivo atrair grandes empresas de tecnologia (big techs), startups e centros de pesquisa para o coração da zona portuária do Rio, será um dos principais vetores do desenvolvimento econômico do Rio! Esse hub tem o intuito de aquecer o setor de tecnologia na economia carioca e facilitar a ponte entre academia, investidores e empreendedores. A Invest.Rio, empresa de investimentos da cidade ligada à SMDEIS, está liderando o projeto.

Com o objetivo de unir tudo em um só lugar: melhor educação, maiores investidores, empreendedores cariocas e a tecnologia mais avançada na melhor cidade do mundo, o projeto busca solucionar quatro pontos: 1) baixa conversão de atividade acadêmica em negócios; 2) falta de startups na cidade; 3) ausência de um ponto de encontro da comunidade; 4) gap de formação de mão de obra em tecnologia.

Além do IMPA, no braço educacional, diversos outros parceiros farão parte da associação, com uma governança muito forte, com empresas do setor privado, que serão sócios fundadores, mantenedores ou associados.

“O projeto da Bolsa Verde Rio é de fazer na cidade um ecossistema de finanças sustentáveis, com um braço educacional, um de mercado e uma parte mais simbólica também.”

Chicão Bulhões

CF – Outra iniciativa importantíssima para a economia do Rio é a criação da Bolsa Verde. Ela é a cereja do bolo dos investimentos verdes no Rio ou outras iniciativas ainda mais fortes estão por vir?

CB – O projeto da Bolsa Verde Rio é de fazer na cidade um ecossistema de finanças sustentáveis, com um braço educacional, um de mercado e uma parte mais simbólica também. O Rio tem um histórico de iniciativas ligadas à sustentabilidade há muito tempo, já que sediou a Eco 92, teve Rio +20, 2022 é ano da Rio +30. E o mercado financeiro também tem uma longa tradição na cidade, que foi perdendo protagonismo nas últimas décadas, mas que mesmo assim, ainda há diversas gestoras de recursos sediadas na cidade, que mantém sob sua gestão bilhões de reais.

Há uma clara vocação da Cidade para estimular a implantação de uma Bolsa Verde, a partir de uma tripla ancoragem: (1) a força da “marca Rio” para projetar um hub de “finanças sustentáveis” no Brasil e no exterior, emoldurado pelas suas belezas naturais e pela forte identidade que a “Rio 92” proporcionou à Cidade, como precursora da governança global sobre meio ambiente e mudanças climáticas; (2) a presença local de diversos atores públicos e privados que geram, operam e demandam créditos “verdes”; (3) a existência de um ambiente técnico, acadêmico e de pesquisas de alta qualificação em sustentabilidade e em finanças. A iniciativa conta com o apoio e suporte de diversos atores dos setores público e privado, presentes na academia e/ou mercado, interessados no tema.

Vale ressaltar que o objetivo da Prefeitura não é o de operar uma plataforma de negociações de ativos ambientais (bolsa, balcão organizado ou market-place), e sim criar condições favoráveis para que este projeto seja ancorado na cidade.

O primeiro passo foi a vinda da AirCarbon, uma plataforma global que transaciona créditos de carbono, com aproximadamente 10% do mercado voluntário mundial, que se instalou no Rio. E vamos realizar nas próximas semanas o primeiro leilão de micromobilidade urbana do mundo, com os créditos de carbono gerados na cidade pelas bicicletas da Tembici. A transação será feita na plataforma AirCarbon, já sediada no Rio. Em 2022, muitas outras ações desse projeto ainda vão sair. O objetivo é tornar o Rio a capital de investimentos verdes do Brasil.

CF – Em recente postagem em uma de suas redes sociais, o senhor dá um aviso para quem não acreditar no Rio. Quais razões práticas você utilizaria para convencer alguém a acreditar no Rio?

CB – Razões práticas para acreditar no Rio de Janeiro. Primeiro: Integrações dos licenciamentos que permitem que a gente tenha desenhado o Licin (Licenciamento Integrado) e agora a gente dê licenças em até 30 dias. É claro que nos casos mais complexos fica ali entre 30 e 60, mas o fato é que o Rio de Janeiro melhorou muito. Lei da Liberdade Econômica, em que a gente afasta restrições de zoneamento e elimina o alvará, bastando uma inscrição para que os empreendedores das atividades de baixo risco, que representam quase 80% das atividades ou um pouquinho mais possam ter o seu negócio de uma maneira mais fácil.

Contas da prefeitura arrumadas. Nós não temos problemas de caixa, de dinheiro na prefeitura do Rio, com a experiência do prefeito e secretário de Fazenda Pedro Paulo que arrumaram as contas da cidade que agora se tornou um lugar que vai investir muito em conservação, em ordem pública e na reorganização do sistema de transporte.

Referência em vacinação. Nosso secretário Daniel Soranz, junto com o prefeito, conseguiu avançar a vacinação no Rio de Janeiro e diminuir o número de mortes em razão do Covid e fizeram um trabalho muito sério que permitiu a retomada da atividade econômica e, junto com todas as medidas de simplificação da secretaria, fizeram com que a gente visse os índices de atividade econômica do Rio serem mais altos do que o do estado e suficiente para abrir os olhos dos investidores

Agora caminhamos para um novo momento da cidade. Do Porto Maravalley, do Sendbox Rio, de laboratórios de inovação, dos programadores cariocas e de diversos outros programas que vão transformar nos próximos anos a nossa cidade. Então, pessoal, não fique de fora. Se você não comprar o Rio agora tenha certeza que lá na frente você vai se arrepender. Faça parte deste momento da cidade que lá na frente você vai virar não só um carioca de coração, mas vai potencializar aqueles que já estão aqui a terem orgulho da nossa cidade.

CF – O prefeito Eduardo Paes anunciou recentemente que o Rio pode ter a sua própria criptomoeda. Grande parte da população ainda não conhece o tema. Como o povo pode se beneficiar da inovação?

CB – A CariocaCoin, que é o nome que estamos usando aqui, pode abrir espaço para que as pessoas entendam a tecnologia dentro da administração pública. Pode mostrar para as pessoas que existe segurança na tecnologia.

No momento que a cidade tem a sua própria moeda e coloca isso para que as pessoas possam utilizá-la, e  se ela facilita a vida das pessoas, tendem a utilizar. Não podemos fazer algo que seja difícil, perda de tempo. As pessoas sempre tomam decisões com base na facilidade para vida delas. A gente está sempre pensando nos efeitos práticos da coisa. Não podemos ficar só na teoria porque a teoria é bonita, mas às vezes não funciona. A gente conversa com o mundo real.

“A CariocaCoin, que é o nome que estamos usando aqui, pode abrir espaço para que as pessoas entendam a tecnologia dentro da administração pública”

Chicão Bulhões

CF – Enquanto o Rio renasce das cinzas em regiões como o Porto Maravilha, ainda carece de revitalização em outras. Existem projetos de desenvolvimento de regiões que estão prontos para serem anunciados?

CB – Existe o projeto Reviver Centro, liderado pela Secretaria de Planejamento Urbano, que é um plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região central do Rio. O maior objetivo do plano é atrair novos moradores, aproveitando as construções existentes e terrenos que estão vazios há décadas em uma região da cidade com infraestrutura e patrimônios culturais de sobra. Vale ressaltar que um dos principais pontos de atenção da Prefeitura é com as Zonas Norte e Oeste, que vão concentrar 70% do total dos recursos (35% cada), segundo o Planejamento Estratégico 2021-2024 do Rio. 

CF – O Rio saltou no ranking da geração de empregos e vê o nível de atividade econômica subindo. Quais as razões da melhora no cenário?

CB – O Indicador de Atividade Econômica do Rio (IAE-Rio), desenvolvido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) do Rio  cresceu, em termos reais, 4,1% em 2021 (na comparação com o ano anterior), após uma queda de mesma magnitude em 2020, mostrando a recuperação da economia do Rio ao longo de 2021.

A aceleração da vacinação ao longo de 2021, que completou o ano com quase 95% da população carioca acima de 12 anos com o esquema vacinal completo (2ª dose ou dose única), contribuiu para recuperação da atividade econômica. Isso permitiu uma perspectiva positiva para a economia carioca, em especial para o setor de serviços, que tem o maior peso na economia brasileira (70%), e mais ainda na economia do Rio (86%), e é o que mais emprega a população carioca também, já que 85% dos trabalhadores formais cariocas estão nesse setor.

Em 2021, foram gerados 81,4 mil empregos formais segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgado pelo Ministério do Trabalho. Só para efeitos de comparação, em 2020, houve uma perda de 107,7 mil empregos formais no Rio. Vale ressaltar que o Rio voltou a ser a segunda capital que mais gerou empregos em 2021, ficando atrás somente de São Paulo.

Do total de vagas geradas em 2021, quase 60 mil foram no setor de serviços. Dos mais de 80 mil novos empregos formais gerados em 2021, 53,2% foram de mulheres e 46,8% de homens. Na análise por grau de instrução, observa-se que praticamente só foram gerados empregos com níveis mais altos de escolaridade (Ensino Médio completo e Ensino Superior, incompleto ou completo), concentrados no Ensino Médio completo (80,1%). Na separação por idade, a maior parte das vagas foram para os jovens, já que 86,8% foram para pessoas entre 18 e 29 anos.

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