Há exatos dez anos o Flamengo celebrava seu 117º aniversário em um misto de expectativa e incerteza com a proximidade de mais uma eleição. Dentro de campo, eliminação na fase de grupos na Libertadores e posição de meio da tabela no Brasileiro. Nem os mais otimistas dos rubro-negros imaginavam que dez anos depois a situação seria completamente diferente, dentro e fora de campo. Aliás, alguns imaginaram. Planejaram, trabalharam e transformaram o Flamengo.
Com Bandeira de Mello na figura de presidente em substituição a Wallim Vasconcellos, que teve sua candidatura impugnada, a chapa azul chegou ao poder em uma época que era difícil ter noção exata da dívida do clube de maior torcida do país, tamanho o caos instalado nas contas rubro-negras. Era preciso mexer em casa de marimbondo sem medo de tomar ferroada.
Atualmente deputado federal eleito, Bandeira de Mello, que ficou seis anos à frente do clube, olha para trás com orgulho da transformação que ajudou a construir. Ele fala sobre o grande desafio. Como aplicar medidas de austeridade diante de uma torcida exigente e em um ambiente em que céu e inferno ficam tão perto?
“Os maiores desafios eram os ligados a incompreensão de muita gente de que naquele momento era necessário fazer sacrifícios, fazer a coisa certa para que a gente pudesse superar as dificuldades, mas como nós sempre tivemos a consciência do que era necessário ser feito foi fácil superar a restrição.”
“Os maiores desafios eram os ligados a incompreensão de muita gente de que naquele momento era necessário fazer sacrifícios, fazer a coisa certa para que a gente pudesse superar as dificuldades”
Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo
Um dos pilares da recuperação financeira em qualquer esfera é planejamento. Era preciso, portanto, auditar as contas do Flamengo e ser rígido no plano e ainda mais controlador na tarefa de cumprir o que era combinado. Ex vice-presidente de Finanças do Flamengo, um dos agentes da transformação de um clube à beira da falência em um vencedor com R$ 1 bi de faturamento, Cláudio Pracownik conta que as metas foram cumpridas até antes do planejado.
“Se nós formos comparar com as metas traçadas objetivamente no plano de dez anos que foi feito junto com a Ernest Young a gente superou as expectativas. A gente atingiu os objetivos antes do tempo. Mas cada vez que você atinge um objetivo você projeta um maior. Isso que impulsiona o clube às suas grandes vitórias. Essa busca por algo melhor o tempo inteiro”.
A busca pela excelência se tornou prática no clube, mas das portas da gávea e do ninho do urubu para fora era complicado segurar uma torcida que cobrava resultados. De certa maneira o título da Copa do Brasil conquistado em 2013 colocou panos quentes no sentimento da torcida, mas no Campeonato Brasileiro a agonia continuava, com risco de rebaixamento no mesmo ano.
Em abril daquele ano, a análise da Ernest Young mostrou um rombo de R$ 750,7 milhões nas contas do clube. Sentar e chorar não era uma opção. Fazer a dívida crescer, como era modus operandi até ali, também não.
Matemática é uma ciência exata. Era óbvio, portanto, que com planejamento e controle nas contas os resultados viriam. Bastava a torcida ter paciência para que os investimentos em um time competitivo voltassem a ser feitos com responsabilidade, sem dívidas.
No fim do ano passado o Flamengo divulgou balanço financeiro que mostrava que o clube pagou de 2013 a 2020 mais de R$ 1 bi em débitos. Foram R$ 876 milhões pagos nos seis anos em que Bandeira ficou no poder e mais R$ 184 milhões pagos na gestão de Landim, que começou em janeiro de 2019.
Com a transformação dos números veio a mudança dentro de campo. Jogadores renomados acreditaram no projeto apresentado, já que a promessa de pagamento em dia era cumprida à risca. As condições de trabalho melhoravam a cada ano e os resultados começaram a aparecer.
A presença frequente na Copa Libertadores, a disputa de finais de Copa do Brasil, as boas colocações no Campeonato Brasileiro e, enfim, o ano mágico de 2019, sob a tutela do português Jorge Jesus. A construção de um grupo vitorioso não foi barata, mas foi o tiro certo de um clube que agora tinha condição de abrir os cofres com responsabilidade.
Qual rubro-negro que tanto sofreu no fim dos anos 1990 e anos 2000 imaginaria que o clube chegaria em 2022 tricampeão da Libertadores, tetracampeão da Copa do Brasil e oito vezes Campeão Brasileiro? E o que pensar para frente? Se manter no topo muitas vezes é ainda mais desafiador.
Aquele esporte que o Flamengo praticava quando foi campeão do mundo em 1981 ficou para trás. O jeito de pensar futebol em 2012 também ficou para trás. Para continuar enchendo a sala de troféus é preciso fazer o que o mercado pede. E, hoje, na era das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) algumas palavras são consideravas chaves do sucesso: governança, responsabilidade social e profissionalismo são algumas delas.
Com o sentimento de já ter feito sua parte como presidente, mas sem negar possibilidade de participação em um grupo que almeje trabalhar pelo bem do clube, Bandeira é enfático em lembrar que é preciso ficar alerta, como faz em artigo escrito para o portal. “O Flamengo hoje tem muito sucesso dentro de campo, mas é preciso trabalhar para ser um modelo fora de campo. É preciso trabalhar a responsabilidade social e ambiental. Governança de qualidade e a valorização de seu maior patrimônio que é a torcida, seja fora do Rio de Janeiro ou Sócio Torcedor”.
Claudio Pracownik, CEO da Win the Game, que trabalha no fomento de negócios no esporte e na aproximação de clubes ao mercado financeiro e técnicas de governança deixa claro que indústria do futebol se transformou e é necessário se adequar a ela. Em artigo escrito para o portal, Pracownik aponta os caminhos para o futebol carioca.
A gestão do futebol do futuro é absolutamente norteada por princípios de governança, por instrumentos tecnológicos. Construção de um banco de dados, associação com sportstech.
Claudio Pracownik, ex-VP de Finanças
“A gestão do futebol no futuro é inevitavelmente com governança, responsabilidade fiscal, profissionalismo e cada vez mais dependente de receita, na minha opinião dependente de capital privado. A gestão do futebol do futuro é absolutamente norteada por princípios de governança, por instrumentos tecnológicos. Construção de um banco de dados, associação com sportstech. Mas principalmente para ser competitivo você precisa de governança e profissionalismo”.
Para 2045, quando o clube completa 150 anos, dois dos agentes da transformação rubro-negra projetam um cenário de muitos títulos, desde que o trabalho continue a ser bem feito fora do campo.
“Eu acredito que o clube vai continuar a ser bem gerido. Imagino que nos 150 anos o Flamengo terá um sócio, imagino que não seja um sócio controlador, mas vai estar ou com capital aberto em bolsa ou com um grande investidor junto. Logicamente se projetando de forma decisiva no mercado internacional. Mas o Flamengo faz parte do ecossistema do futebol brasileiro. Sozinho não vai atingir todo seu potencial”, projeta Pracownik.
O executivo abre o coração para fazer uma revelação ao ser perguntado se voltaria a fazer parte do quadro da diretoria do clube.
“O Flamengo convoca. A gente tem obrigação de estar do lado do clube. Efetivamente eu sonho em voltar em algum momento no futuro para a diretoria. Sonho, inclusive, com a presidência. Como sonho pessoal eu tenho a convicção de que um dia voltarei. O tempo irá dizer, mas o que norteará as minhas ações, além da paixão e do desejo será a necessidade do clube”.
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