Lançado pela Sagarana Editora, “Cinema de Arquivo” é uma obra que se destaca por apresentar descobertas inéditas sobre a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Baseado em extensa pesquisa realizada por Patrícia Machado, o livro reúne imagens e documentos que estavam escondidos, especialmente os que revelam a perseguição a artistas, camponeses, exilados e militantes de esquerda. Entre os destaques está a descoberta de uma rota clandestina de imagens, ligando o Brasil a Cuba e à França, que foram enviadas ao exterior para denunciar a repressão que ocorria no país.
Esses achados documentais revelam histórias de resistência que, até então, permaneceram silenciadas. Cineastas como Eduardo Escorel e José Carlos Avellar foram responsáveis por registrar manifestações em 1968, imagens que precisaram ser escondidas para evitar a censura da ditadura.
As filmagens chegavam ao exterior graças a personagens como Cosme Alves Netto, que, segundo a pesquisa, teria escondido o material na Cinemateca e provavelmente o enviado para Cuba, onde cineastas como Chris Marker produziram filmes que denunciavam as atrocidades cometidas no Brasil.
“Cinema de Arquivo” propõe uma nova leitura do período da ditadura a partir de histórias pessoais, que, interligadas, ajudam a contar a grande história. Um exemplo é Nego Fuba, filmado por Eduardo Coutinho em 1962 na Paraíba, que mais tarde se tornaria um dos desaparecidos políticos. No livro, Patrícia Machado revela uma carta manuscrita por Nego Fuba, onde ele descreve as torturas sofridas antes mesmo do golpe militar, por conta de sua militância ao lado dos camponeses. Essa carta é apenas um dos documentos inéditos apresentados pela autora.
Outro ponto relevante da obra é a investigação sobre o uso e a reapropriação dessas imagens por cineastas contemporâneos. Filmes como Hércules 56 (Silvio Da-Rin), Retratos de Identificação (Anita Leandro), e Setenta (Emilia Silveira) resgatam esses materiais esquecidos, trazendo à tona as memórias que a ditadura tentou apagar. Segundo Andréa França, pesquisadora e professora que assina uma das orelhas do livro, Patrícia Machado investiga não só a origem dessas imagens, mas também as suas intenções e as circunstâncias que levaram ao seu arquivamento e posterior redescoberta.
O lançamento de “Cinema de Arquivo” ocorre em um contexto político que evoca reflexões sobre a memória e o esquecimento no Brasil, especialmente após a retomada dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade e diante do cenário político atual. A obra se destaca como uma importante ferramenta para a construção de memórias fundamentais, ao enfrentar o silêncio imposto pelos agentes da ditadura e oferecer uma nova perspectiva sobre a repressão sofrida por aqueles que resistiram ao regime.
Patrícia Machado é pesquisadora e professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e da graduação em Estudos de Mídia da PUC-Rio. É Jovem Cientista do Nosso Estado – FAPERJ (2023-2026), onde coordena o projeto “Práticas do contra-aquivo: mapeamento e análise de imagens não oficiais da ditadura militar no Brasil (1964-1985)”. Desenvolve pesquisas voltadas para os estudos da imagem, do cinema e, especialmente, dos arquivos audiovisuais. É cofundadora da REPIA – Rede de pesquisa de imagens de arquivo. Atua como consultora de pesquisa em projetos audiovisuais.
Serviço
Cinema de Arquivo: Imagens e Memória da Ditadura Militar
De Patrícia Machado
Sagarana Editora
Número de páginas do livro: 320 páginas
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$65 impresso / R$43 e-book
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