*Por Flávio Cure
Quando uma pessoa precisa de uma nova válvula cardíaca, as opções atuais, mecânicas ou de tecido, apresentam vantagens e desvantagens.
Agora, pesquisadores da Universidade de British Columbia (UBC) Okanagan acreditam ter encontrado uma solução que une o melhor dessas duas tecnologias, podendo salvar muitas vidas. Liderados pelo Dr. Hadi Mohammadi, do Laboratório de Desempenho de Válvulas Cardíacas da UBC Okanagan, eles estão focados no desenvolvimento de uma válvula cardíaca mais avançada para o futuro.
A equipe desenvolveu a iValve, que combina a durabilidade das válvulas mecânicas com o desempenho superior das válvulas de tecido. Válvulas de tecido, apesar de funcionarem melhor devido ao seu formato, geralmente duram de 15 a 20 anos, exigindo novas cirurgias.
Já as válvulas mecânicas, apesar de durarem a vida toda, exigem que os pacientes tomem anticoagulantes diários para evitar complicações. A iValve busca eliminar essas limitações, oferecendo um desempenho mais eficaz e duradouro.
O desenvolvimento da iValve foi possível graças a uma colaboração internacional com ViVitro Labs e consultores independentes, e seus resultados já foram publicados no periódico científico Journal of Biomechanics
O Dr. Mohammadi ressalta que essa é a única válvula do tipo desenvolvida no Canadá e que eles estão muito orgulhosos de representar a inovação da engenharia do país. O grande diferencial da iValve é que ela foi projetada para corações pequenos, como os de bebês, e para pacientes pediátricos com
frequência cardíaca elevada. Os testes mecânicos em laboratório foram promissores, e os pesquisadores esperam iniciar testes em animais e, posteriormente, em humanos nos próximos dois anos.
Além disso, a equipe pretende usar o que aprenderam para desenvolver novas válvulas, como a mitral, que regula o fluxo sanguíneo entre as câmaras do coração. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, que atualmente enfrentam os riscos do uso contínuo de anticoagulantes, como sangramentos graves ou coágulos.
Com o avanço das pesquisas, a expectativa é que as novas tecnologias, como a iValve, reduzam drasticamente a necessidade de múltiplas cirurgias em pacientes jovens. Isso é especialmente importante para crianças e adolescentes, que antes enfrentavam a necessidade de trocar a válvula várias vezes ao longo da vida.
A tecnologia por trás da iValve foi desenvolvida utilizando simulações biomecânicas avançadas. Essas simulações permitem que os pesquisadores entendam como a válvula responde ao fluxo sanguíneo e às pressões dentro do coração, garantindo que ela seja resistente e eficaz em diferentes condições.
Outro aspecto inovador é que a iValve foi projetada com materiais biocompatíveis de última geração. Isso significa que a válvula é capaz de se adaptar melhor ao ambiente do corpo humano, reduzindo a chance de rejeição ou de complicações associadas a materiais sintéticos.
Os pesquisadores estão otimistas quanto à aplicação da iValve em países em desenvolvimento. Por ser uma tecnologia que combina durabilidade e acessibilidade, ela pode ajudar pacientes que não têm acesso fácil a serviços de saúde especializados, como cardiologia intervencionista.
A próxima etapa no desenvolvimento da iValve envolve testes rigorosos em modelos animais para validar sua segurança e eficácia. Caso esses testes sejam bem-sucedidos, os ensaios clínicos em humanos começarão nos próximos anos, marcando um avanço significativo na cardiologia moderna.
Além das válvulas aórticas e mitrais, a equipe já planeja expandir a tecnologia para outros tipos de válvulas cardíacas. Isso inclui as válvulas tricúspide e pulmonar, que também desempenham papéis cruciais na circulação do sangue dentro do coração.
O impacto potencial da iValve vai além da saúde individual. Com a redução da necessidade de anticoagulantes e de múltiplas cirurgias, os custos associados ao tratamento de doenças cardíacas também devem cair. Isso beneficiará não apenas os pacientes, mas também os sistemas de saúde ao redor do mundo.
O Dr. Mohammadi acredita que a inovação tecnológica na medicina deve sempre ter como objetivo principal melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Segundo ele, o desenvolvimento da iValve é um exemplo claro de como a engenharia e a medicina podem trabalhar juntas para criar soluções revolucionárias.
O futuro da cardiologia está em constante evolução, e a iValve é apenas uma das muitas inovações que estão por vir. Pesquisas nessa área continuarão a trazer esperanças para milhões de pacientes que enfrentam doenças cardíacas em todo o mundo.
Flávio Cure Palheiro é cardiologista, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star.
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