Utopia do consenso

Marcelo Casal/Agência Brasil

A verdade só se revela com os fatos! Essa deveria ser uma verdade em uma perspectiva grega da verdade aletheia ou seja aquilo que não está oculto, ou que foi desocultado, se opondo ao que está encoberto ou escondido. Diferente da veritas” do latim, na qual a verdade está ligada a precisão, exatidão e ao rigor. Trata-se de um relato que busca entender os fatos por meio de enunciados sistemáticos, conferindo ao status de verdade a precisão e o estudo metódico sobre as coisas. Abrindo espaço para construção das narrativas.

Se existe alguma coisa consensual na humanidade, é que de fato todo vida um dia chega ao fim portanto a única verdade universal é o fim da matéria. Não há consenso sobre Deus, sobre a beleza sobre a justiça, alegria, política definitivamente não ao consenso.

Quando falamos em das utopias conceituais que movem os pensamentos ideológicos a pender para direita ou para esquerda, em meio a tanto dissenso, seria possível algum consenso? Antes de sermos de esquerda ou de direita, somos seres humanos e devemos buscar uma convivência harmônica na medida do possível.

Existe outra verdade que se revela pelos fatos, a saber, nem esquerda e nem direita tem produzido um mundo melhor na verdade é bem o contrário como na fábula A Revolução dos Bichos de George Orwell sobre animais de uma fazenda que se rebelam contra seu dono humano, Sr. Jones, e tomam o controle, a cada dia surgem porcos Napoleão e Bola-de-Neve, que tentam tomar o controle absoluto da fazenda com o apoio de cães de guarda e começa a explorar os outros animais, que trabalham mais e recebem menos. Começam com uma causa nobre coletiva e em seguida se locupletam do esforço alheio.

Isso acontece tanto com políticos de direita quanto de esquerda é impossível para esquerda esquecer dos arroubos verbais de Bolsonaro, sua pouco habilidade em falar sobre a pandemia ou para a direita esquecer as condenações do mensalão e as mentiras eleitoreiras de Lula. Esses são alguns exemplos de verdades reveladas pelos fatos mas como na Revolução dos Bichos sempre surge o porco Garganta defensor das narrativas criadas pelos que estão no poder para se perpetuarem nele constroem verdades manipuladas.

A Utopia do consenso seria a possibilidade de uma sinergia simbiótica entre as ações político ideológica progressista de esquerda encontrando seu limite no respeito ao limite conservador da direita e vice versa.

Seria o nascimento de um pensamento econômico, social e político cujo amalgama ou força de união seria a possibilidade de reunir indivíduos de diversas matizes ideológicas em um projeto de reconstrução cujo inimigo comum seria qualquer espécie de extremismo

Inclusão sem transformação é ilusão, por que não seja seu objetivo, gera exclusão combatida ferrenhamente pela esquerda.

Uma busca pela construção de uma ponte capaz de ligar os pensamentos de teóricos da esquerda como Karl Marx e Friedrich Engels e seu socialismo científico, que critica o capitalismo e defende a luta de classes para alcançar uma sociedade sem classes tentando dialogar com Adam Smith e suas ideias sobre o livre mercado e valorização do individualismo e a meritocracia. ou ainda Norberto Bobbio que posiciona a esquerda como aquela que prioriza a igualdade buscado no liberalismo econômico, como liberdade de mercado e propriedade privada a possibilidade dessa igualdade.

Percebe-se uma forte inclinação do espectro ideológico da esquerda para o comunismo uma vez que pretende empoderar grupos com pouco ou nenhuma representação construindo uma narrativa de que a direita que pretende manter o poder entre pequenos grupos já consolidados.

Na vida em sociedade, ou melhor no grande contrato social sob o qual vivemos não deveria haver espaço para radicalismo em nenhum dos lados, o extremismo em ambos é nefasto. Pessoas tem direito de defender um estado mínimo no qual os indivíduos tem mais poder e esse Estado pequeno deve cuidar apenas do essencial, restringindo-se às necessidades mais absolutas das pessoas, tais como defesa nacional, a garantia de abastecimento de mantimentos e de energia elétrica, água, etc. Neste pensamento, o governo é o último recurso, acionado apenas quando as pessoas não podem fazer nada por si mesmas. Nesse caso estamos falando da direita.

Porém podem defender Estado grande pesado presente em todos os aspectos da vida social focando na coletividade, um Estado sem nenhum equivalente em poder, influenciando inclusive na a educação infantil, o regimento interno das empresas, a economia, as assistências sociais de qualquer natureza e, até mesmo, os limites da liberdade de culto. Nesse caso estamos falando da esquerda.

Indivíduos reagem diferente e estímulos iguais, mas também podem reagir igual a estímulos diferentes. Empoderamento sem reconhecimento gera atrito não se deve impor linha de produção.
Em um governo de esquerda inclinado ao comunismo é lícito pensar na coletividade, mas não é justo manter pessoas orbitando em torno de um satélite cuja força gravitacional são as bondades estatais.

Em síntese a direita concorda com programas sociais tais como bolsa família, auxilio gás dentre outros, mais defende veementemente a necessidade de portas de saída desses programas quando verificado que já não existe vulnerabilidade social e nem insegurança alimentar.

Professor Hélvio Costa é jurista e professor universitário

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