Pérolas Negras e a missão de transformar o futebol brasileiro

A honrosa participação da ONG Viva Rio na missão de paz do Haiti, iniciada em 2004, não é novidade. A instituição encontrou um cenário desolado pela guerra e enfrentou inúmeros desafios como o terremoto de 2010. E foi no país caribenho que nasceu, em 2009, a Academia Pérolas Negras, uma ideia que hoje está prestes a transformar o jeito que consumimos futebol no Brasil.

O objetivo do projeto criado há treze anos com apoio de George Soros e José Roberto Marinho era claro. Atuar em territórios expostos à pobreza extrema e violência para formar crianças e jovens utilizando o esporte como ferramenta.

O presidente da ONG Viva Rio e da Academia Pérolas Negras, Rubem Cesar, ressalta a força do futebol como ferramenta social e abre que a escola do esporte é modus operandi da instituição: “A gente sempre utilizou o futebol como porta de entrada e permanência em comunidades difíceis e situações mais complicadas para trabalhar, sobretudo com crianças e jovens, pois futebol tem uma atração fantástica”, afirma. “Em situações de violência, em ambiente reprimido, com medo, você abrir espaço para futebol é um movimento positivo. É o tipo de atividade que nós sempre temos. No Haiti não foi diferente”.

Rubem Cesar, presidente do Pérolas Negras e da Viva Rio, falou sobre o alcance do futebol nas comunidades

Logo no início da história o projeto sofreu o duro golpe do terremoto no país, em 2010, mas a Viva Rio conseguiu reconstruir as instalações do Centro de Treinamento no ano seguinte e em julho de 2011 começou a escrever sua história de glórias, tanto esportivas como sociais.

Pérolas Negras no Brasil

O tempo passou e a garotada formada nas primeiras turmas já batia, em 2016, idade de profissional. Surge, então, a oportunidade de trazer o trabalho para o Brasil, para disputa de competições em solo fluminense. O registro junto à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro veio em 2017, com sede em Resende (RJ), e no mesmo ano a primeira taça levantada, na Série C.

De lá para cá a curva foi sempre positiva, com destaque para o ano passado, quando o time venceu a Copa Rio e conseguiu vaga para disputar sua primeira competição nacional – O Campeonato Brasileiro da Série D de 2022.

O Pérolas Negras, no entanto, não perde sua essência de acreditar na transformação de vidas e vai além dos investimentos esportivos e celebração dos títulos. No caminho do sucesso da academia estão duas siglas: ESG e SAF.

Time masculino escreve história gloriosa desde a filiação em 2017
Equipe feminina do Pérolas Negras está na elite do Carioca

“A gente sentiu que tínhamos um caminho de progressão e para continuar e chegar ao nível nacional, que é o que pretendemos, a gente precisava dar um passo mais forte em termos de estrutura e financeiro. Então estamos no meio do processo de se desdobrar em duas estruturas. O profissional, junto com o sub-20 e o feminino se tornarão clube-empresa, por meio de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol. Enquanto a base que formamos, uma rede de associações esportivas de favelas, que disputa as várias competições de base, desde o sub-10 até o sub-17, será reforçada, mas sem fins lucrativos”, detalha Rubem Cesar.

O objetivo, portanto, é combinar o clube-empresa com a atividade sem fins lucrativos da atuação socioambiental dentro das comunidades. A missão atual é, portanto, atrair investimentos para as duas frentes. E não demorou para a ideia chamar atenção de parceiros e investidores do esporte.

Pérolas Negras campeão de ESG

Um exemplo é a parceria com uma fazenda em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba paulista, referência em agrofloresta. A cada gol marcado por uma equipe do Pérolas Negras (profissional e sub-20) é plantada uma árvore. A meta no ano, de cem gols marcados, resulta no plantio de 10.000 mudas de Mata Atlântica no entorno da Serra da Mantiqueira.

Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Clube de Regatas do Flamengo e que trabalhou por 36 anos como gestor do BNDES, consultor no processo da SAF do Pérolas Negras, ressalta que a preocupação do Pérolas Negras com o Meio Ambiente é pioneira no Brasil, apesar de ser realidade na Europa.

“A gente costuma dizer que o Pérolas Negras não é um clube de futebol com uma pegada social. Ele é um projeto social com uma pegada esportiva. E foi isso que me atraiu”.  “O Pérolas Negras vai ser o primeiro clube de futebol brasileiro totalmente aderente às questões ESG. Com esse foco você agrega possíveis investidores que nas suas áreas de atuação já estão preocupados com os princípios ESG. As pessoas que estamos conversando foram atraídos por conta desta particularidade, que é uma novidade no Brasil.”

Bandeira de Mello lembra que na Alemanha a partir da temporada 23/24 a disputa dos campeonatos nacionais de primeira e segunda divisão serão condicionados à obrigatoriedade de adequação aos parâmetros de sustentabilidade que serão definidos neste ano.

“O Pérolas Negras vai ser o primeiro clube de futebol brasileiro totalmente aderente às questões ESG”

Eduardo Bandeira de Mello

Rubem Cesar ressalta que o objetivo da SAF é a profissionalização e a modernização do futebol do Pérolas Negras e separar das questões políticas, para atingir o resultado esportivo almejado. Ele diz que a diferença para as demais SAF em curso no Brasil, além da ausência de dívidas, questão rara no futebol brasileiro, é a natureza ambiental e social.

“Queremos ser o clube de futebol ESG do Brasil. Acreditamos que este é o futuro do mundo do futebol sadio, longe da politicagem, da corrupção. É o caminho para ter um impacto positivo diante da sociedade”.  

Eliminado na primeira fase da Série D do Campeonato Brasileiro, o Pérolas Negras pretende andar com o projeto da SAF e paralelamente disputar a Copa Rio no segundo semestre, em busca do bicampeonato. O objetivo a médio prazo é a disputa, em 2024, da disputa da Série A do Campeonato Carioca. E, fora de campo, a criação de uma referência na área social e ambiental.

“O Pérolas Negras pode virar o segundo time de todos a partir do momento que você demonstra todo o aspecto social, ambiental e de ciência do esporte que será uma coisa importante. O Pérolas Negras será um clube sediado em Resende, mas com fãs no estado e no Brasil”, projeta Bandeira de Mello.

“Queremos ser o clube de futebol ESG do Brasil. Acreditamos que este
é o futuro do mundo do futebol sadio, longe da politicagem, da corrupção”

Rubem Cesar, presidente da Viva Rio e do Pérolas Negras.
Rubem Cesar e Bandeira de Mello junto com jogadores do elenco do Pérolas Negras

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