Nas entrelinhas da notícia

Repensar a educação, para repensar o Brasil

*Por Professor Hélvio Costa

“Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação? Não deixemos o aparelho, a máquina, o eletrônico, a tecnologia, causarem a ruptura de nossas convivências, a desertificação de nossa sociedade e a esterilização de nossos sonhos”. T.S. Eliot – Poeta da literatura inglesa

Imersos na cultura hodierna, vive-se hoje sob vários aspectos, o período mais intensamente estimulante da história da Terra. Cercados por informação de todos os lados, dividimos a atenção entre o real e o virtual (em plataformas tecnológicas: computadores, tabletes, smartphones, publicidade de centenas de canais de televisão). Ao mesmo tempo, vivemos a era de incertezas e inseguranças, próprias do ápice da mudança de uma época.

Estamos na era pós-industrial, no “mundo globalizado” , na “sociedade da informação”e do “capitalismo tardio”. Para descrever este momento da vida em sociedade, Nicolau Sevecenko (2001) usa a metáfora do “loop da montanha-russa” para ilustrar a sensação de vertigem vivida diante das mudanças mundiais. Para este autor, estudioso da história da cultura, o clímax máximo destas transformações, seria exatamente o momento do “loop”, onde nos encontramos.

Existe uma clara interferência da “Revolução Tecnológica” nos modelos comportamentais dos indivíduos. Todas estas transformações, entre tantas outras, vieram sendo gestadas ao longo da história da civilização humana. Esse “novo mundo” veio delineando-se, tomando forma, e acelerando-se, desde as últimas décadas do século XX.

Fruto da crise da “razão instrumental” criticada por pensadores centrais da Escola de Frankfurt. Já no início do século XX a eletricidade, os transportes, a melhoria da qualidade de vida e a fotografia, por exemplo, invadem a vida de ricos e pobres de modo quase simultâneo, exigindo adaptação as acelerações das maravilhosas máquinas de todo gênero. Uma mudança cultural cada vez mais acelerada e em larga escala.

Uma cultura emergente, fruto de rápidas mudanças no tecido sócio-cultural do Ocidente – especialmente a partir da queda do muro de Berlim (1989) e do fim do socialismo burocrático do leste europeu simbolizado com a extinção antiga União Soviética (1991) – marca o mundo atual de maneira irreversível.

Mudanças de valores sem precedentes começaram a influenciar novos valores sociais, e vice-versa, entrando em cena: o consumismo exacerbado, a ditadura de modas e a evolução do marketing para seduzir as massas. Visibilidade social e seu poder de sedução passam a ser proporcionais ao seu poder de compra, alterando consequentemente, a percepção e a sensibilidade daqueles que estão diretamente ligados ao turbilhão de invenções, acarretando assim, uma quebra progressiva de paradigmas nunca imaginada até então.

Em meados do século XX, presenciamos a supervalorização do olhar, resultado de técnicas cinematográficas e televisivas que influem no cotidiano de cada ser humano nos mais diferentes cantos do planeta. Além dos novos métodos de sedução através da mídia, os próprios produtos passam a compartilhar um novo padrão visual homogêneo e inovador com cores linhas e texturas, introduzindo um novo código icônico da modernidade.

A vulgarização das artes e dos valores através da indústria do entretenimento provocou a mudança de papéis de atores e políticos, através da destruição de sua áurea imagética. Novos padrões de comportamento foram sendo implementados com o uso crescente das recentes invenções sendo aplicadas com o intuito de divertir as massas com emoções baratas. Ideia esta que vem sendo ampliada, e hoje, a indústria do entretenimento movimenta somas astronômicas de dinheiro, com lucros cada vez mais previsíveis.

Atingindo os mais distantes confins do planeta o cinema e a televisão implantaram um novo fenômeno cultural com formas padronizadas. Com duração e efeitos calculados para incutir no público novas mensagens de otimismo e conformidade causando empobrecimento social, cultural e emocional. Comendo “Fast food”, vestindo a nova moda ou dirigindo o carro dos sonhos, você não é mais o que você pensa, você é o que você consome.

Uma quebra de arquétipos foi sendo assimilada a partir do momento que determinados setores da população passaram a repudiar as ditaduras do campo político, cultural, social e econômico.

Ao lado do desenvolvimento científico e tecnológico, vimos crescer também, em larga escala, as diferenças sociais, a marginalização dos mais pobres (milhões de seres humanos vivendo abaixo da linha da pobreza), a sacralização da miséria. O paraíso previsto não chegou. Chegou a barbárie, as Guerras promovidas e financiadas pela indústria armamentista-bélica, outrora “promotoras de desenvolvimento”. Chegou a destruição das fontes de vida, a crise ecológica e ética.

Sendo assim, outro mundo precisa ser (re)pensado e criado sem os delírios prometeicos alienantes, mas igualmente sem o pessimismo fáustico paralisante. Ou seja, uma ponderação sapiencial é necessária.
Indo direto ao ponto, precisamos urgentemente repensar a educação em sua deiscência e docência essa última através do aprimoramento de competências pedagógicas, cognitivas, tecnológicas e socioemocionais de forma humana e atual, de modo que os mesmos, enriquecidos, venham a traçar caminhos inovadores na construção teórico-prática de conhecimentos.

A União, Estados, Município e rede privada, precisam oferecer um espaço de refúgio propício à reflexão/construção/reconstrução do próprio educador, fortalecendo o emocional dos profissionais da Educação Básica, de modo que, possam exercer a prática pedagógica de maneira esperançosa, provocativa e corajosa, com maior motivação, leveza e criatividade.

Um espaço onde possa ser desenvolvida a compreensão e prática de uma docência, onde o professor, como orientador da aprendizagem, precisará, antes de tudo, tornar-se objeto de sua própria reflexão e consequentemente sujeito da sua própria aprendizagem. Deste modo, nas condições de verdadeira aprendizagem, serão os reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado mesmo que para além zona de conforto entrando na complexidade.

Educar para complexidade é entender que este conhecimento está em constante processo de reconstrução. em uma sociedade que traz exigências cada vez mais amplas como: a capacidade de resolver problemas, que abarca outras dimensões como a flexibilidade e adaptabilidade a novas situações; capacidade de decisões fundamentadas, que remete à habilidade de selecionar informações relevantes, nos mais diversos setores da vida; e principalmente, a capacidade de continuar aprendendo, única forma pela qual o resultado da ação educativa pode responder à contínua diversificação e mudança nas demandas de aprendizagem desta sociedade.


Professor Hélvio Costa é jurista e professor universitário

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