O Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, abriga o maior santuário do mundo dedicado a Maria, mãe de Jesus Cristo para a Igreja Católica. O Santuário Nacional de Aparecida, localizado na cidade de Aparecida, recebeu quase nove milhões de peregrinos de diversas partes do Brasil e do mundo em 2023. E o estado do Rio tem sua contribuição. Do Norte Fluminense partem algumas das diversas romarias que unem histórias de fé e tradição.
De acordo com o santuário, o ano de 2024 registrou oficialmente, até outubro, 145 romarias do Estado do Rio de Janeiro, onde 45,81% da população se declara católica, com base em dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em contato com o Conexão Fluminense, a administração da igreja informou que o segundo semestre costuma ser o de maior movimento no templo, que abriga a imagem encontrada em 1717 por três pescadores no rio Paraíba do Sul, na altura de Guaratinguetá.
São mais de três séculos de devoção. A popularidade da santa expandiu ao ponto de ser declarada em 1930 padroeira do Brasil e receber a visita dos papas João Paulo II, que consagrou o altar do santuário, Bento XVI e Francisco. Em 2017, ano em que foram celebrados os 300 anos do encontro, o movimento anual bateu recorde com 13 milhões de visitantes.
Na última quinta-feira (21), pelo menos sete ônibus com aproximadamente 300 romeiros realizaram a viagem anual de cerca de 580 km, entre São Francisco de Itabapoana (SFI) e a cidade paulista.
O guia de turismo Vagner Barreto, de 44 anos, é o responsável por três destes veículos e em torno de 100 passageiros. Eles chegaram ao templo dedicado à padroeira do Brasil na manhã de sexta-feira (22) com retorno no domingo (24), marcando mais um capítulo de uma história iniciada há mais de 40 anos.
“Tudo começou com meu pai, Jorge Hilduino, há 43 anos, que inicialmente fazia excursões para o Santuário de Nossa Senhora das Neves, em Presidente Kennedy [distante uma hora de SFI]. Nessas viagens, ele começou a ouvir falar sobre Aparecida. E partir daí, começou a realizar as viagens. Na época, Aparecida era bem diferente de como é atualmente. Em grande parte era estrada de chão”, contou.
Além da infraestrutura bem diferente dos dias atuais, o roteiro também mudou bastante. Antes, conta Vagner, as viagens começavam em dias de sábado, que eram dedicados a visita à Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na Zona Norte da capital fluminense. De lá, no final da tarde, seguiam rumo ao destino principal, onde aproveitavam somente parte do domingo, já que o retorno era no período da tarde. A noite de sono era no próprio ônibus.
Muito além da profissão no setor de turismo, Vagner é de família católica. O avô foi um dos responsáveis por transmitir a devoção à Nossa Senhora Aparecida, a quem chama de “protetora divina e a que intercede sempre por mim”.
“Também sempre gostei muito de ônibus. A partir de 1995-1996, comecei a ter maior responsabilidade nas viagens do meu pai e, anos depois, me formei guia de turismo. De lá para cá, fomos aumentando os números de dias, passamos a ir para hotéis e a fretar ônibus mais confortáveis. Essa preocupação maior com o conforto, aliás, foi algo que passei para o meu pai”, observou.
Barreto conta que, desde o início do planejamento das viagens, alinha fé e responsabilidade, ao prezar pela segurança dos passageiros, mas “sempre entregando tudo a Deus”. Ele relata que quando chega em Aparecida o coração de guia de turismo se mistura com o de devoto.
“Também tenho os meus momentos de agradecer e pedir proteção junto com minha esposa e meus dois filhos. Meu entusiasmo quando se aproxima a viagem parece ser a primeira vez. Fico muito emocionado. A satisfação profissional e de levar as pessoas a Nossa Senhora provoca uma emoção diferente”, afirmou.
Santuário Nacional em 12 de outubro de 2023. (Foto: Júlio César Barreto)
A emoção também envolve a maioria dos viajantes. Vagner conta que no ano passado diversos passageiros relataram que o motivo principal da viagem era para pagar promessas. Neste ano não é diferente. Uma das passageiras, além de visitar o santuário pela primeira vez, irá agradecer uma graça alcançada.
“Isso me deixa emocionado e realizado. Minha voz até embarga, pois, de alguma forma faço parte destes momentos de superação”, mencionou.
O santuário, inclusive, conta com diversos locais apropriados para este público. A sala das promessas é um deles, onde cerca de 19 mil objetos chamados de “ex-votos”, que representam milagres, são entregues por mês. O espaço abriga peças de famosos, como o capacete de Ayrton Senna, uma camisa da seleção brasileira usada por Ronaldo Fenômeno e um dos figurinos da apresentadora Xuxa.
Além de Aparecida, a região conta com outros locais procurados por peregrinos, como é o caso do Santuário Arquidiocesano de Santo Antônio de SantAnna Galvão, conhecido popularmente como Frei Galvão. A igreja dedicada ao primeiro brasileiro a ser reconhecido santo pelo Vaticano fica em Guaratinguetá.
Outro ponto muito procurado é a Comunidade Canção Nova, fundada pelo Monsenhor Jonas Abib, falecido em 2022. O espaço, sediado em Cachoeira Paulista, promove acampamentos de oração ao longo de todo ano. A iniciativa é vinculada a Renovação Carismática Católica (RCC) e desenvolve programações com personalidades conhecidas nacionalmente, como os padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo e Frei Gilson.
Vagner relata que adicionou nos últimos anos a Canção Nova ao roteiro da viagem através de um desejo pessoal de conhecer o local, o que também foi demonstrado por outros passageiros. Desde então, a tarde de sexta-feira é dedicada a reza do Terço da Misericórdia no Santuário do Pai das Misericórdias. Segundo ele, a popularização deste momento oracional foi crucial para promover este acréscimo.
Hosana Brasil, São Miguel Arcanjo e Sorrindo pra Vida são alguns dos acampamentos promovidos ao longo do ano na Canção Nova, que, neste ano, chegou a 46 anos de fundação. Em média, são cinco eventos por mês.
Morador de Campos dos Goytacazes, Fabrício Barreto, 26 anos, esteve como peregrino em um deles em 2022, o Por Hoje Não!, conhecido como PHN. A edição de 2024 deste acampamento atraiu quase 200 mil pessoas em cinco dias de intensa programação destinada a jovens.
Ele, que é estudante de arquitetura e trabalha em um escritório de contabilidade, conta que a primeira visita ao local foi por meio de uma excursão que saiu de Farol de São Thomé. “Durante o encontro senti o desejo de retornar no ano seguinte com meu próprio grupo, com saída do distrito de Guarus, onde moro, e deu certo. Inclusive, como tudo começou no PHN, batizei a caravana de Carlos Acutis, que é um jovem beato a ser canonizado no ano que vem”, revelou.
A inspiração foi concretizada e, desde 2023, ele promove quatro caravanas por ano e também para outros acampamentos. A próxima será na segunda semana de dezembro para o Hosana Brasil, um dos eventos mais conhecidos da comunidade.
“Você pode ir a Canção Nova várias vezes no mesmo ano que vai ser sempre diferente. Nenhuma temática é igual. São shows e pregadores diferentes. A procura tem aumentado. Percebo que a pandemia de Covid-19 esfriou um pouco os fiéis, que agora estão retornando”, analisou.
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